A última polémica destas eleições, a questão dos concursos públicos à medida, fez-me lembrar mais uma historieta da minha passagem pelo Ministério da Justiça…
A certa altura um dos organismos do Ministério lançou um concurso para compra de um conjunto de equipamento configurado de determinada forma. Não era nada do outro mundo, eram p’raí 10 ou 12 mil euros. Mas era o suficiente para ter de se fazer consulta pública a pelo menos 3 fornecedores.
Chega o dia de ver as propostas e deparo-me com 3 propostas quase iguais. Tipo: uma tinha um parafuso a mais e custava mais 10€, a outra tinha uns cabos piores e custava menos, etc. Para além disso fez-me alguma espécie ver 3 propostas, apresentadas por 3 distribuidores/fornecedores diferentes, com praticamente o mesmo e exacto equipamento e configuração. Do mesmo fabricante.
Fiz meia dúzia de perguntas e fiquei esclarecido…
Então parece que é frequente acontecer isto: um fabricante quer ganhar um concurso; mas não quer apresentar só uma proposta e concorrer com outros fabricantes; pega em 3 dos seus distribuidores e são eles que concorrem, com uma proposta definida pelo fabricante com pequenas alterações para cada distribuidor e pequenas alterações de preço; umas vezes ganha um dos distribuidores, outras vezes ganha outro. WIN.
Como o ITIJ tinha de aprovar todas as despesas em tecnologias e sistemas de informação, o Conselho Directivo ao qual presidia não aprovou a despesa e anulou o concurso. Ainda se deu uma descasca nos responsáveis do organismo em causa. E uma stickada nos distribuidores e fabricante: voltavam a repetir a gracinha e ia tudo recambiado para as autoridades competentes.
(Eu sou assim, um gajo afável e tolerante, dou sempre uma 2a oportunidade às pessoas. Mesmo assim, à conta desta e doutras, não consigo mesmo arranjar amigos. E ainda dizem que tenho mau feitio. É uma injustiça.)
Quanto aos concursos feitos à medida que agora estão na berlinda, só tenho a dizer uma coisa: meninos. Não sabem fazer as coisas. Os verdadeiros profissionais dos concursos são muito mais sofisticados…
Ui, que ele não aprovou o comentário. Muita treta e telhados de vidro, é o que é.
Se aprovasse tinha de responder. E para responder tinha de relatar factos q não posso relatar. Se quiseres posso esclarecer-te via email.
— MV
Confesso que sou ingénuo ao ponto de só recentemente ter noção que é assim que se processam os concursos públicos. Já suspeitava da cartelização a nível das obras públicas, que é algo que é muito falado, dados os montantes elevados. Julgava eu que os informáticos eram mais honestos. HAH! Sou mesmo totó.
O lixado é que estas situações são difíceis de contornar. É difícil provar em tribunal que há uma «fraude»; como dizes e muito bem, estes chico-espertos são verdadeiros profissionais e fazem isto há uma ou duas décadas, com imensa experiência, sabendo perfeitamente que mesmo que hajam denúncias, queixas, ou até mesmo processos em tribunal, serão mais cedo ou mais tarde descartadas.