Esoterica I – O Assalto

Servidores Esoterica

Servidores Esoterica

A propósito do aniversário de constituição da Esoterica vou aproveitar para ir fazendo alguns posts com historietas que aconteceram, que já andava a pensar fazer há algum tempo. Algumas revelações serão chocantes. Esta é a primeira…

A certa altura o Paulo Laureano fez meia duzia de scripts em bash (queria fazer em C, ganda maluco) que detectavam se um servidor estava em baixo e, caso estivesse, mandava uma mensagem para um pager (eu ainda sou do tempo dos pagers).

Em cada semana havia um desgraçado que ficava com o pager, encarregado de resolver qualquer problema. Ou conseguia entrar em remoto e resolver, ou então estava lixado e tinha de ir às tantas da manhã carregar no botão.

Um belo dia, estava o Paulo de plantão, e o pager deu alarme à meia noite: “Servidor de news em baixo”. O servidor de news era um filho da mãe, a luz do disco estava sempre acesa. Para além disso a maquina tinha “marteladas” a grosso, dadas pelo palerma do sysadmin (um palhaço chamado Mário Valente). Logo a seguir “Servidor de email em baixo”. Logo a seguir “Servidor FTP em baixo”. O Paulo, que no caso do servidor de news se estava a cagar, teve mesmo de ir. Felizmente morava perto.

À meia noite e meia, um quarto para a uma, liga-me: “Olha lá, mudaste os servidores de sitio?”. E eu: “Eu? Tás maluco ou quê”. Diz ele: “Então vem cá que fomos assaltados”.

Nice…

E lá fui. Tinhamos sido assaltados. Não havia um unico servidor na sala. Na nossa e em mais nenhuma do centro de escritórios que tinha sido assaltado.

Ligar à Polícia, ligar ao advogado, ligar à gestão do centro de escritórios, etc e tal.

Entretanto, eu e o Paulo começámos a fazer contas: pera aí! O pager tocou à meia noite. O Paulo (que morava perto) chegou lá à meia noite e meia e telefona-me. Os tipos não tinha tido tempo para sair com o “material”!!! Viemos para rua antes que desse asneira dentro do centro.

A Policia chega. “Oh Sô guarda, eles ainda estão no centro, não tiveram tempo de sair!!”… “Pxxx! Oh amigo, isso agora eles já vão longe”, e tal e não sei quê.

Vem a gestora do centro, vem o nosso advogado e lá se arranjou licença para entrar no centro e avaliar a situação. Meu dito meu feito: tudo o que tinha sido roubado, inclusive os nossos servidores, estava numa sala numa cave com saída para a rua de trás. A nossa sorte é que o servidor que detectava falhas e que mandava pagers foi um dos últimos a ser desligado.

O artolas do polícia ainda se pôs com merdas tipo “ninguém mexe em nada que agora vem a PJ”. Levou com uma arrochada do João Luis Traça (nosso advogado) que até chiou…

Toca de mover os servidores de volta para a sala e ligar tudo; recuperar discos e/ou reinstalar backups, uma vez que os discos tinham sido desligados à má fila; e etc e tal, às tantas da manhã. Pelas 7 da manhã estava tudo de volta online. Mandámos um email a todos os clientes: “pediamos desculpa mas a EDP tinha tido um problema na nossa zona e demorou algum tempo a repor a situação”.

E assim acontece.

17 comments

  1. Jorge Alves

    Na IP tambem tínhamos isso dos pagers (Telechamada) na altura.

    E sim o servidor de news, era sempre aquele cujo kernel tinha de ser compilado com algo do tipo -HUGE_INODE_LIST senao aquilo empancava….

    Para já nao falar no expire de 1 dia para a hierarquia alt.binaries.*

  2. Só uma correcção ao dito pelo Luis, a Esotérica não foi o primeiro fornecedor de acesso comercial à Internet…

  3. Genial. São histórias destas que dão sabor à vida :)

    Já agora, alguma razão em particular pela qual não contaram a verdade aos clientes?

    • Simples. Não tinham segurança no edificio e o unico alarme que tinham era caso um servidor falha-se. Resumindo o dinheiro estava no banco e os servers não eram importantes.

    • Juventude a mais e o calor do momento não facilitam decisões que hoje nos parecem mais óbvias… :-)

      PLS

    • >alguma razão em particular pela qual não contaram
      > a verdade aos clientes?
      >

      Nao queriamos parecer um ISP de vão de escada que era o que éramos, conforme disse na altura um PHB da Teleweb.

      Uma coisa é certa: éramos de vão de escada, mas os salários dos empregados nunca faltaram, mesmo a custo dos salários dos fundadores. E mesmo de vão de escada nunca tivemos de fechar a empresa de um dia para o outro, com policia à porta e tudo para não deixar entrar o pessoal.

      — MV

  4. Delicioso!

    Estás a despertar-me o interesse para abrir uma série equivalente de histórias perdidas sobre os primórdios do batráquio.

  5. You gotta love it! :-)

  6. O pager continua actual visto que o pessoal envia SMS a torto e direito e, de vez em quando, até se lembra que dá para falar :)

  7. Xi, lindo, adoro estas histórias. Mais por favor!

  8. Eheheh, excelente! Mais uma história mítica

  9. Ah, então foi por isto que fiquei sem alt.news.binaries.centerfolds e IRC aquela noite inteira! Raios.

  10. Tiago Sequeira

    Grande história… fico à espera da próxima!

  11. excelente Mario! eu acho que sou desse tempo,ne?
    os inicios da esoterica!!! genial,admiravel!

  12. Lindo!

    Lembro-me deste episódio e de saber que não tinha sido a EDP.

    > Resumindo o dinheiroestava no banco
    Não fazes ideia do que eram estes dias :)

    Estamos a falar da altura em que 64kb internacionais eram uma alarvidade e que realmente era no servidor de news que estava a maior carga.

    No PUUG haviam várias histórias destas para contar.

    BTW: não sei porquê, e muito menos para quê, mas ainda tenho o meu pager ;)