10
Mar 13

O Estado “Social”

 Algumas pessoas não entendem qual é o meu problema com o socialismo.

Note-se que o meu problema não é com socialistas. Tenho amigos que são, mas a mim não me dá jeito; já cheguei até a visitar bairros de socialistas. No geral, os amigos que tenho que são socialistas, são boas pessoas. E esse é o principal problema deles. Querem ajudar toda a gente. Quando vêem um pobrezinho na rua querem sempre dar-lhe a minha camisa.

Voltando ao assunto. O meu problema nem sequer é directamente com o socialismo. É uma coisa mais genérica. O meu problema é com o colectivismo. Com a lógica de que o grupo se deve sobrepôr ao individuo. Com o ser obrigado a pertencer a colectivos. Este meu problema com o colectivismo aplica-se a vários particulares, como sejam o comunismo, o nazismo, o fascismo, o nacional-porreirismo… e o socialismo, claro.

Quando assumo o meu individualismo, não quero com isso dizer que me recuso a fazer parte de colectivos. Mais: até gosto de trabalhar em equipa, em colectivo. Mas desde que seja uma equipa a que eu tenha decidido pertencer, sem ser obrigado a isso. E desde que seja uma equipa de gente capaz, ao invés de uma maralha de gente incapaz que se associa e ganha pelo simples facto de que são mais macacos do que um tipo sózinho ou uma equipa competente.

Tudo isto para dizer que o meu problema com o socialismo se refere precisamente à sua lógica: a sociedade é mais importante que o individuo; os “direitos” da sociedade são mais importantes do que os do individuo; os direitos do individuo podem ser menorizados ou eliminados quando os  “direitos” da sociedade são mais “importantes”.

Resulta disto que todos os partidos que temos, do BE ao CDS-PP, são todos socialistas. Para além de todos terem o S(ocial) no nome, todos eles, de uma forma ou de outra, querem impôr determinadas regras ou obrigações aos individuos, diminuindo-o nos seus direitos. Mas esta questão da “direita” e da “esquerda” fica para outro dia.

Para as pessoas que não entendem qual é o meu problema com o socialismo e com o Estado “social”, ocorreu-me fazer aqui uma citaçãozinha dessa monumental bosta que é “O Contrato Social”, de Jean Jacques Rousseau. Este panfleto e este Rousseau são  daquelas coisas que a Clara Ferreira Alves gosta de referir para parecer que é inteligente. Aliás, os socialistas gostam muito de se referir a Rousseau como uma influência, e gostam de se referir ao “O Contrato Social” como se fosse uma bíblia e uma obra prima. Não é. O Rousseau era um cretino e “O Contrato Social” merecia o prémio Sanita de Barro Mole.

Os socialistas ficam inclusivé incomodados quando alguém leu Rousseau e achou que é uma bosta. O Rousseau pertence-lhes. Quem discorda de Rousseau não pode ler Rousseau. E quem leu Rousseau e não se converteu ao socialismo é um pobre atrasado mental.

Na verdade, já não me lembro quem foi que disse isto: a diferença entre os socialistas/colectivistas e os liberalistas/individualistas é que os primeiros leram Rousseau e os segundos leram Rousseau e perceberam.

Bem, fica então a citaçãozinha de Rousseau, retirada dessa “obra” que é “O Contrato Social” e que é pilar da lógica do Estado “Social”.

 

“[os individuos que aceitaram o contrato social (ie. o Estado social)] fizeram uma troca vantajosa: de uma forma de viver incerta e precária para uma outra melhor e mais segura; da independência natural para a liberdade; do poder de prejudicar outrem para a sua própria segurança; e da sua força, que outros poderiam vencer, para um direito que a união social torna invencível.

A própria vida, que os particulares consagram ao Estado, é-lhes continuamente protegida e, quando a expõem em defesa do Estado, que mais fazem do que prestar-lhe aquilo que dele receberam?

[…]

Pergunta-se como é que, não tendo os particulares o direito de dispor da sua própria vida, podem transmitir ao Estado este mesmo direito que não têm.

[…]

O contrato social tem por fim a conservação dos que o aceitam. Quem quer os fins, quer também os meios. E estes meios são inseparáveis de alguns riscos e até mesmo algumas perdas. Quem quer conservar a sua vida à custa dos outros deve dá-la também por eles quando for preciso. Ora o cidadão deixa de ser juiz das circunstâncias de perigo a que a lei o obriga a expor-se e, quando o Estado lhe diz que é razão de Estado que ele morra, pois ele deve morrer, porque não foi senão com essa condição que ele viveu em segurança até então, e porque a sua vida não é já apenas um dom da natureza, mas um direito condicionado pelo Estado.

 

TL;DR: como a maralha de macacos não me mata e me deixa viver, na verdade a minha vida é da maralha de macacos, e se um macaco com uma pila maior disser que eu devo morrer, então não faço mais do que a minha obrigação porque, na verdade, quem me deu a vida foi a maralha de macacos. Substituir “maralha” por “sociedade” e “pila maior” por “maioria de votos”.

Era só isto, obrigado pela atenção.


08
Jan 13

Se a Estupidez Pagasse Imposto…

… não era preciso subir impostos porque estes burros davam conta do deficit e da dívida.

“Regresso do IVA da restauração aos 13%” – sim, boa ideia! Vamos deitar fora quase 10% da receita necessária para pagar a dívida num serviço que não é necessidade primária. E pelo caminho induzimos também as pessoas a gastar mais e a poupar menos. E financiar botecos que apenas sobrevivem porque têm rendas baixas, evitam os impostos ao não passarem factura.

“Recuperar o imposto sobre heranças” – brilhante! Vamos lixar a grande maioria dos portugueses e acrescentar à dor de perder um familiar a dor de ser roubado pelo Estado nos poucos bens que o familiar pôde deixar de herança. Mas assim podemos dizer que estamos a lixar os ricos. Independentemente do valor que seria obtido ser um valor marginal cobrado a uma franja da população, os “ricos”. Só que o Zé Povinho não percebe até levar a ripada mais tarde.

“Impostos de 0.3% sobre valores mobiliários” – wow! Vamos por mais impostos em cima da malta da classe média que tem umas acçõezitas da PT, da Sonae… Mas, mais uma vez, podemos dizer que é um imposto para os “ricos”.

“Agravar TSU para empresas que se deslocalizem” – é isso! Vamos pegar nas empresas que já pusemos de gatas com tantos impostos e taxas e cobrar-lhes ainda mais. Assim esses “ricos” morrem de certeza. E sempre os incentivamos a deslocalizarem-se de vez.

“Impostos sobre Obrigações do Tesouro” – nem mais! Vamos cobrar mais impostos a quem emprestou ao Estado comprando as obrigações. Ficamos com menos dinheiro porque menos pessoas irão emprestar ao Estado comprando obrigações. Em particular as grandes organizações de investimento (por exemplo os fundos de segurança social dos outros países): vamos dizer-lhes para nos deixarem de comprar milhões em Obrigações do Tesouro.

“Criar uma taxa para produtores de electricidade” – sim! Vamos fazer com que a electricidade fique mais cara. E ainda dá para cobrar mais impostos a quem instalou painéis solares. E às empresas que investiram em reciclagem e em produção alternativa de energia.

“Limitar juros do crédito ao consumo” – em cheio! Vamos diminuir o número de instituições ainda capazes de emprestar dinheiro. E pelo caminho ainda impedimos uma catrefada de pessoas de poderem de recorrer a empréstimos quando precisam deles.

“Taxação de dividendos sobre as SGPS” – bingo! O que é que essas SGPS que criam e gerem outras empresas querem? Têm de pagar. Cobramos IRC nas empresas detidas pelas SGPS e depois cobramos IRC e taxa de dividendos na SGPS. Se sobrar algum dinheiro, ainda cobramos IRS aos patos que criaram a SGPS e que criaram empresas e empregos.

“Limitar juros da dívida a 2.5% das exportações” – pois claro. Se eu consegui chegar ao banco e dizer-lhes que agora estavam limitados a cobrarem-me no máximo 2.5% do meu salário, porque é que o Estado não há-ser capaz de obrigar os investidores internacionais ao mesmo limite? Têm de pagar pelo privilégio de nos emprestarem dinheiro.

Cambada de estúpidos. E é suposto o Louçã ser economista.


20
Oct 12

A Vitória do Javascript

Há pouco mais de 7 anos atrás, em 2005, comecei a desempenhar funções no Instituto de Tecnologias de Informação na Justiça. Um dos problemas com que nos deparámos de imediato foi a multiplicidade de tecnologias usadas: em sistemas operativos, Windows, Linux, z/OS, AIX e outros; em bases de dados, Oracle, MySQL, MS SQL, DB2 e inclusive Lotus Notes; em termos de linguagens de programação, Cobol, .NET, PHP, Javascript. Uma das prioridades que estabelecemos então foi o tentar diminuir essa multiplicidade.

 

Os casos de sistemas operativos e de bases de dados foram mais fáceis de resolver. O escolher uma linguagem de programação unificada foi mais complicado. O processo de análise que fiz levou-me a concluir que essa linguagem de programação seria o Javascript, embora não fosse essa a escolha final para o ITIJ, por razões organizacionais.

 

Sim, também eu achava que o Javascript era uma linguagem para o frontend, que era fracota, que era lenta, que nunca iria substituir o PHP, o Python ou o Perl no backend. E, no entanto, tudo apontava para que de facto fosse a Next Big Language: a maior base instalada do mundo, desde telemóveis a milhões de websites, o maior número de programadores do mundo, com mais ou menos competência, uma linguagem com familiaridade sintática com o C, e com uma familiaridade de paradigma com as linguagens funcionais como o Lisp ou o Erlang. Note-se: o Javascript não tem rigorosamente nada a ver com Java.

 

Na altura fiz uma apresentação no âmbito do projecto Asterisco onde chegava precisamente a essa conclusão e a encontrar algo que estava esquecido: o Javascript podia ser uma linguagem de backend, substituindo o PHP/Perl/Python. No meio da década de 90 a Netscape chegou a ter uma solução dessas de seu nome Livewire. Começavam também a aparecer algumas implementações de Javascript serverside como o Helma ou o Rhino.

 

A partir dessa altura a utilização do Javascript do lado do servidor começou a aumentar de mês para mês. Em 2008, no Codebits, cheguei a lançar o desafio da criação de um framework web que utilizasse Javascript desde o nivel no sistema do servidor até ao web browser no frontend, tendo referido também a grande oportunidade de negócio que isso representava. De há um ano e meio para cá esse crescimento do Javascript foi notório, para o qual ajudou o aparecimento do Node.js e de múltiplos frameworks de desenvolvimento web.

 

Contra todos os velhos do Restelo, o Javascript transformou-se numa alternativa sólido tanto do lado do servidor como do lado do frontend, estando já a substituir o próprio Flash, quando conjugado com as tecnologias genericamente designadas como HTML5.

 

Mais recentemente tem-se observado um outro fenómeno extremamente relevante: o Javascript está a transformar-se no Assembler da Internet. Neste último ano multiplicaram-se as linguagens que, diferentes do Javascript, são no entanto compiladas para Javascript. Como exemplos refiram-se o Go, o Objective-J, o CoffeeScript, o TypeScript e até o C/C++.

 

Sete anos depois das minhas reflexões, está mais do que claro qual é a Next Big Language: foi o Javascript que ganhou essa guerra.


30
Sep 12

Reading About the Future

Following an exchange of tweets with some friends, here’s some books that will make you think about the future:

 

 

 


21
Sep 12

Artistas da Rádio, Cassete, TV e Disco

Vim aqui ao Parque das Nações e vi duas coisas, o Campus da Justiça e os escritórios da Datelka, que me fizeram lembrar uma história engraçada.

Regularmente aparecem artigos ou reportagens do tipo “julgamento tem de ser repetido porque as gravações falharam”.

Porque é que isto acontece? Porque os tribunais ainda usam as velhinhas cassetes audio. Lembram-se?

Pois bem: o Ministério da Justiça deve ser o último e único cliente desta moderna tecnologia. Para além dos problemas de aprovisionamento, ainda acaba por pagar um prémio no preço por causa da escassez do produto (o mercado é uma coisa lixada; se calhar uma idéia é o Estado  criar um Instituto para produzir cassettes audio).

Para além disso as cassettes, já de si pouco fiáveis, são reutilizadas e regravadas. Como quem fez muitas mixtapes saberá, não há cassette que aguente. Ao fim de X regravações a fita começa a deteriorar-se.

E pensais vós: “Porra, mas não era mais simples gravar digitalmente para MP3 ou coisa assim?”. Pois era. Mas não pode ser.

De acordo com os magistrados e juízes, a segurança das cassettes audio é muito maior. Podem ficar guardadas numa gavetinha ou num bolso. Essa coisa de digitalizar o audio e depois guardar em sistemas de gestão de conteudos em servidores centralizados num datacenter seguro é uma coisa do demo. Depois havia pessoas que ouviam as gravações e era uma chatice. É mais facil copiar as gravações das cassettes para CD e distribuir à malta.

A modernização tecnológica é uma maçada.