08
Jan 13

Se a Estupidez Pagasse Imposto…

… não era preciso subir impostos porque estes burros davam conta do deficit e da dívida.

“Regresso do IVA da restauração aos 13%” – sim, boa ideia! Vamos deitar fora quase 10% da receita necessária para pagar a dívida num serviço que não é necessidade primária. E pelo caminho induzimos também as pessoas a gastar mais e a poupar menos. E financiar botecos que apenas sobrevivem porque têm rendas baixas, evitam os impostos ao não passarem factura.

“Recuperar o imposto sobre heranças” – brilhante! Vamos lixar a grande maioria dos portugueses e acrescentar à dor de perder um familiar a dor de ser roubado pelo Estado nos poucos bens que o familiar pôde deixar de herança. Mas assim podemos dizer que estamos a lixar os ricos. Independentemente do valor que seria obtido ser um valor marginal cobrado a uma franja da população, os “ricos”. Só que o Zé Povinho não percebe até levar a ripada mais tarde.

“Impostos de 0.3% sobre valores mobiliários” – wow! Vamos por mais impostos em cima da malta da classe média que tem umas acçõezitas da PT, da Sonae… Mas, mais uma vez, podemos dizer que é um imposto para os “ricos”.

“Agravar TSU para empresas que se deslocalizem” – é isso! Vamos pegar nas empresas que já pusemos de gatas com tantos impostos e taxas e cobrar-lhes ainda mais. Assim esses “ricos” morrem de certeza. E sempre os incentivamos a deslocalizarem-se de vez.

“Impostos sobre Obrigações do Tesouro” – nem mais! Vamos cobrar mais impostos a quem emprestou ao Estado comprando as obrigações. Ficamos com menos dinheiro porque menos pessoas irão emprestar ao Estado comprando obrigações. Em particular as grandes organizações de investimento (por exemplo os fundos de segurança social dos outros países): vamos dizer-lhes para nos deixarem de comprar milhões em Obrigações do Tesouro.

“Criar uma taxa para produtores de electricidade” – sim! Vamos fazer com que a electricidade fique mais cara. E ainda dá para cobrar mais impostos a quem instalou painéis solares. E às empresas que investiram em reciclagem e em produção alternativa de energia.

“Limitar juros do crédito ao consumo” – em cheio! Vamos diminuir o número de instituições ainda capazes de emprestar dinheiro. E pelo caminho ainda impedimos uma catrefada de pessoas de poderem de recorrer a empréstimos quando precisam deles.

“Taxação de dividendos sobre as SGPS” – bingo! O que é que essas SGPS que criam e gerem outras empresas querem? Têm de pagar. Cobramos IRC nas empresas detidas pelas SGPS e depois cobramos IRC e taxa de dividendos na SGPS. Se sobrar algum dinheiro, ainda cobramos IRS aos patos que criaram a SGPS e que criaram empresas e empregos.

“Limitar juros da dívida a 2.5% das exportações” – pois claro. Se eu consegui chegar ao banco e dizer-lhes que agora estavam limitados a cobrarem-me no máximo 2.5% do meu salário, porque é que o Estado não há-ser capaz de obrigar os investidores internacionais ao mesmo limite? Têm de pagar pelo privilégio de nos emprestarem dinheiro.

Cambada de estúpidos. E é suposto o Louçã ser economista.


20
Oct 12

A Vitória do Javascript

Há pouco mais de 7 anos atrás, em 2005, comecei a desempenhar funções no Instituto de Tecnologias de Informação na Justiça. Um dos problemas com que nos deparámos de imediato foi a multiplicidade de tecnologias usadas: em sistemas operativos, Windows, Linux, z/OS, AIX e outros; em bases de dados, Oracle, MySQL, MS SQL, DB2 e inclusive Lotus Notes; em termos de linguagens de programação, Cobol, .NET, PHP, Javascript. Uma das prioridades que estabelecemos então foi o tentar diminuir essa multiplicidade.

 

Os casos de sistemas operativos e de bases de dados foram mais fáceis de resolver. O escolher uma linguagem de programação unificada foi mais complicado. O processo de análise que fiz levou-me a concluir que essa linguagem de programação seria o Javascript, embora não fosse essa a escolha final para o ITIJ, por razões organizacionais.

 

Sim, também eu achava que o Javascript era uma linguagem para o frontend, que era fracota, que era lenta, que nunca iria substituir o PHP, o Python ou o Perl no backend. E, no entanto, tudo apontava para que de facto fosse a Next Big Language: a maior base instalada do mundo, desde telemóveis a milhões de websites, o maior número de programadores do mundo, com mais ou menos competência, uma linguagem com familiaridade sintática com o C, e com uma familiaridade de paradigma com as linguagens funcionais como o Lisp ou o Erlang. Note-se: o Javascript não tem rigorosamente nada a ver com Java.

 

Na altura fiz uma apresentação no âmbito do projecto Asterisco onde chegava precisamente a essa conclusão e a encontrar algo que estava esquecido: o Javascript podia ser uma linguagem de backend, substituindo o PHP/Perl/Python. No meio da década de 90 a Netscape chegou a ter uma solução dessas de seu nome Livewire. Começavam também a aparecer algumas implementações de Javascript serverside como o Helma ou o Rhino.

 

A partir dessa altura a utilização do Javascript do lado do servidor começou a aumentar de mês para mês. Em 2008, no Codebits, cheguei a lançar o desafio da criação de um framework web que utilizasse Javascript desde o nivel no sistema do servidor até ao web browser no frontend, tendo referido também a grande oportunidade de negócio que isso representava. De há um ano e meio para cá esse crescimento do Javascript foi notório, para o qual ajudou o aparecimento do Node.js e de múltiplos frameworks de desenvolvimento web.

 

Contra todos os velhos do Restelo, o Javascript transformou-se numa alternativa sólido tanto do lado do servidor como do lado do frontend, estando já a substituir o próprio Flash, quando conjugado com as tecnologias genericamente designadas como HTML5.

 

Mais recentemente tem-se observado um outro fenómeno extremamente relevante: o Javascript está a transformar-se no Assembler da Internet. Neste último ano multiplicaram-se as linguagens que, diferentes do Javascript, são no entanto compiladas para Javascript. Como exemplos refiram-se o Go, o Objective-J, o CoffeeScript, o TypeScript e até o C/C++.

 

Sete anos depois das minhas reflexões, está mais do que claro qual é a Next Big Language: foi o Javascript que ganhou essa guerra.


30
Sep 12

Reading About the Future

Following an exchange of tweets with some friends, here’s some books that will make you think about the future:

 

 

 


21
Sep 12

Artistas da Rádio, Cassete, TV e Disco

Vim aqui ao Parque das Nações e vi duas coisas, o Campus da Justiça e os escritórios da Datelka, que me fizeram lembrar uma história engraçada.

Regularmente aparecem artigos ou reportagens do tipo “julgamento tem de ser repetido porque as gravações falharam”.

Porque é que isto acontece? Porque os tribunais ainda usam as velhinhas cassetes audio. Lembram-se?

Pois bem: o Ministério da Justiça deve ser o último e único cliente desta moderna tecnologia. Para além dos problemas de aprovisionamento, ainda acaba por pagar um prémio no preço por causa da escassez do produto (o mercado é uma coisa lixada; se calhar uma idéia é o Estado  criar um Instituto para produzir cassettes audio).

Para além disso as cassettes, já de si pouco fiáveis, são reutilizadas e regravadas. Como quem fez muitas mixtapes saberá, não há cassette que aguente. Ao fim de X regravações a fita começa a deteriorar-se.

E pensais vós: “Porra, mas não era mais simples gravar digitalmente para MP3 ou coisa assim?”. Pois era. Mas não pode ser.

De acordo com os magistrados e juízes, a segurança das cassettes audio é muito maior. Podem ficar guardadas numa gavetinha ou num bolso. Essa coisa de digitalizar o audio e depois guardar em sistemas de gestão de conteudos em servidores centralizados num datacenter seguro é uma coisa do demo. Depois havia pessoas que ouviam as gravações e era uma chatice. É mais facil copiar as gravações das cassettes para CD e distribuir à malta.

A modernização tecnológica é uma maçada.


18
Sep 12

Despesas do Estado em Tempos de Crise

No Domingo passado fui fazer uma das habituais caminhadas com a Cristina. Um tipo passa os 40 e começa a ficar totalmente kitado e é preciso fazer algo para desenferrujar.

Ali perto do Marquês, e no seguimento das recentes obras e mudanças efectuadas no Marquês de Pombal, diz ela: “Não percebo que necessidade há de fazer este tipo de obras quando o País está em crise”

“Ah! eu explico!” – disse eu. E expliquei.

A maior parte das grandes obras que por aí se fazem contam com o guito vindo da União Europeia. E os tipos lá de Bruxelas não vão em cantigas: não pôem o dinheiro todo. Uma parte é a chamada comparticipação nacional e a outra parte a chamada comparticipação da UE. Por exemplo: fazer uma dessas obras custa 60 milhões de euro; a UE entra com 40 milhões e Portugal entra com 20 milhões. A UE só entra com os 40 milhões se Portugal entrar com os 20 milhões. Se Portugal pedir os 40 milhões e disser que põe os 20 milhões e depois não os puser, não só tem de devolver o dinheiro como paga multas.

Já estão a ver não é: “oh pá! temos de gastar os 20 milhões em alguma coisa, senão temos de devolver os 40 da UE e levamos com a chibatada das multas”. E depois toca de inventar coisas onde gastar 20 milhões. Às vezes que nem são estritamente necessárias para o projecto em causa. O que interessa é não perder o guito.

Normalmente no fim do ano é uma lufa lufa a esgotar as dotações (as quantias orçamentadas). Também é uma lufa lufa a esgotar as dotações do Orçamento de Estado: se se gastar menos do que o orçamentado, o orçamento para o ano a seguir não pode ser maior do que o que foi gasto. Um gestor público não tem por isso qualquer incentivo a poupar dinheiro. Mas isso é uma história que fica para outro dia.