Quem me conhece, em especial os amigos, têm-me em conta de ser um gajo modernaço. Sempre em cima das últimas tecnologias e tal, fã de gadgets e o camandro.
Deixem-me desiludir-vos: eu sou um troglodita tecnológico. Sou, em linguagem MBA, aquilo que designa de laggard no ciclo de adopção tecnológico.
É verdade. Gosto de saber das últimas novidades, de experimentar novas tecnologias, de testar gadgets e de fazer experiências com software. Mas quando toca a adoptar tudo isso para uso corrente, sou um sacana de um conservador reaccionário.
Vem isto a propósito do último upgrade que fiz à minha workstation cá de casa. Comecei a fazer as contas e cheguei à conclusão que tenho a mesma máquina há 8 anos. Sim, leram bem: OITO anos.
Comprei uma Dell Precision 530 algures em fins de 2001 ou inicio de 2002. Na altura custou à volta de uns €3000 (melhor do que os €5000 que me pediam a Compaq e a HP); hoje podem-se comprar por menos de €150. Na altura era uma “bomba”: duplo processador Xeon, 512MB de RAM (Rambus, RDRAM), disco SCSI 15.000 RPM e tudo o resto. Se calhar foi por ser uma bomba que durou até hoje. Funcionou sempre perfeitamente para o que eu precisava de fazer, mesmo para torrar tempo a jogar Enemy Territory ou Quake. Há uns 3 ou 4 anos atrás tive de lhe substituir a placa gráfica e o disco SCSI, porque queimaram os dois. Pus uma porcaria de uma placa gráfica qualquer de €50 e um disco IDE e tá a andar. E sempre a bombar. Mais recentemente não conseguia jogar o Combat Arms nem o Battlefield Heroes e fiz mais um upgrade: passei a RAM para 1Gb e e comprei dois discos SCSI, a juntar ao IDE. E siga para bingo, faz tudo o que preciso, inclusive os jogos.
Em termos de software (sistema operativo especialmente) a história não é muito diferente: a máquina vinha com o Windows 2000 instalado, que foi prontamente aniquilado pelo avançado e testado Windows 98. Quando saiu o XP resolvi fazer uma loucura: instalei o Windows 2000. E mudei para XP há uns 3 ou 4 anos, pouco antes de sair o Vista, que ignorei liminarmente, tanto pessoalmente como no Ministério da Justiça (as críticas foram muitas mas eu sou teimoso e tinha razão). Pode ver-se a coisa deste ponto de vista: não gosto de ser beta tester, em particular da MS.
Antes que se ponham aí os fanáticos do costume a espumar: eu tenho outras máquinas. Eu tenho aqui um servidor com Linux (acho que tem o Fedora 5 ou 6, não me apetece fazer o upgrade). Eu tenho ali um Mac Cube com o Mac OSX 10.1 (também tenho os CDs do 10.5.2 para reinstalar mas ainda não me apeteceu). Eu tenho uma NeXT a correr o NeXTStep 3.2 que é a versão de 1993 (se alguém me arranjar os CDs da 3.3 ou da 4.0 penso em fazer o upgrade, acho que já deve estar suficientemente testado). Portanto não me chateiem e voltem lá a fazer genuflexões ao Deus da vossa escolha (não, não são esses: estou-me a referir ao Gates, ao Jobs e ao Linus).
Até à semana passada até estava satisfeito com a máquina. Fruto das muitas instalações e kitanços, a máquina às vezes arrastava-se, mas funcionava. E até já nem jogo muito (chateiam-me os gajos que têm hacks e cheats melhores que os meus). Mas comecei a pensar “eh pá, isto agora que saiu o Windows 7 deve estar na altura de fazer um upgrade”. E aqui é que houve um problema. Instalo essa porcaria do Vista? Bem pelo menos está testado, pensei eu. Ou instalo o 7 e ponho-me a jeito para ser enganado como beta tester e para ser toureado para dentro do famoso upgrade path MS?
Decidi: a última versão do Windows que entrou cá em casa e a última que usarei é o XP. Não tenho mais pachorra para as merdas da Microsoft. Tanto em termos de OS como em termos de comportamento da empresa. Nos últimos anos vi muitos comportamentos que pouco me agradaram. De um tipo equilibrado conseguiram transformar-me num tipo tendencioso. Fanático não. Vou continuar a ser amigo de quem usa Windows e até posso visitar os bairros onde moram. Mas não os ajudo mais em qualquer porra dos chliques do XP, do Vista ou do 7 ou lá do que for.
Instalei o Ubuntu 9.04. Eu sei que saiu o 9.10, mas também não gosto de ser beta tester deles. Estou satisfeito. A máquina funciona bem. Já não se arrasta. Acho que ainda deve durar 2 anos. Depois começo a pensar outra vez em comprar uma bomba qualquer (tipo 16 CPUs, 2Tb de disco, 16Gb de RAM, etc). Qualquer coisa que custe cerca de €3000. E que dê para durar mais dez anos. Cinco, pronto.