23
Jul 11

Esoterica VII – Golias e o Ataque Atómico

… ou “como eu estive próximo de apanhar 3 anos de prisão por causa de incomodar a PT”. E não, não teve a ver com piratarias que eu não percebo nada disso.

Vou-vos então contar a história da bomba atómica.

As relações da Esoterica com o ICP (hoje Anacom), era de “profunda amizade”. Regularmente tinhamos uma visita deles, não necessariamente física. Uma vez foi por causa dos modems sem licença que estávamos a usar e que afinal estavam na lista de equipamento licenciado; outra vez foi para saber que raio de linha dedicada é que tínhamos, porque não estava registada na PT (pois não, dessa vez não fomos parvos, e em vez de pedir à PT uma linha dedicada de Lisboa a Londres encomendámo-la à British Telecom); outra vez foi para dizer que tínhamos de bloquear os ports onde passava Voice-Over-IP ( Vocaltec anyone?) porque não tínhamos licença para operar voz, era um monopólio da PT.

Endless fun.

O dia da bomba atómica chega quando aparece uma cartinha citação vinda do Palácio da Justiça. Ora então a Esoterica, nomeadamente o seu responsável (eu), era arguida(o) num processo crime pelo facto de ter estado a funcionar como operador de telecomunicações sem ter licença, crime esse pelo qual podia incorrer numa pena de prisão até 3 anos. Como disse atrás, endless fun…

Lá fomos. Não tínhamos guito para pagar a advogados, mas felizmente por essa altura já tínhamos tido um investimento por parte da Lusoholding e um dos administradores da Esoterica era advogado. (um dia destes também conto a história desse investimento e do filme com o Vasco Pereira Coutinho)

Pergunta daqui, pergunta dali, resposta à Sra Dra Juíza, falamos nós, fala alguém do ICP/Anacom (que já tinha trabalhado na PT) e tal e tal. Acabámos por demonstrar que tínhamos feito todos os esforços para saber que tipo de licença devíamos pedir e como a poderíamos obter. E fizémos de facto todos os esforços. Vim a saber mais tarde que andámos a ser empaliados deliberadamente para dar tempo que a PT/Telepac lançásse o seu serviço.

A coisa estava a ficar mais ou menos encaminhada mas ficou completamente resolvida num repente. Está o artista do ICP a responder e pergunta a Juíza : “então mas se estes senhores andaram quase 2 anos a operar sem licença, porque é que os senhores, que até tinham conhecimento das diligências deles, só agora interviram?”. E diz o tipo (mais ou menos por estas palavras): “ah, é que enquanto eles estavam mais ou menos caladinhos não se justificava. Mas oh sôtora, quando duas das pessoas que mais sabem de Internet no País começam a fazer publicidade e a dar conferências, já não pudémos fechar os olhos!”. Já foste…

A Juíza deu uma rabecada no ICP por causa de nos ter empaliado, criticou o facto de o ICP só ter intervido quando a Esoterica começou a parecer uma “ameça”, e mandou-nos para casa com a multa mínima para o crime (500 contos, 2500€).

Para que conste, portanto, eu já fui arguido. Excelente arma para me descredibilizar agora que o cabelo comprido já não serve. E arma eficaz quando me candidatar a primeiro ministro (isto para além do facto de usar o título de Eng. e não pagar as quotas da Ordem).

E não foi arguido numa merda qualquer no cível, não. Criminoso mesmo. Dá um certo estilo.

 


16
Jun 11

Colecionadores de Cromos

(NOTA: este artigo foi publicado aqui na Exame Informática, na minha coluna de opinião Franco Atirador)

Nos meus tempos de miúdo não havia cá MTVs, nem Internet, nem 100 canais de televisão, nada. Era fazer carrinhos de rolamentos, jogar à bola, aos polícias e ladrões, roubar fruta nas quintas das redondezas… E colecionar cromos.

Embora não fosse grande maluco da coisa, também colecionei cromos. Mas havia pessoal que era mesmo obcecado com os cromos. Em particular os de futebol. Compravam as carteirinhas que podiam e que não podiam, fazia trocas altamente especializadas… Eram especialmente malucos coms os chamados “cromos difíceis”.

As redes sociais são actualmente o campo de acção dos colecionadores de cromos. Tẽm um amigo em comum com um gajo qualquer, toca de chatear o dito gajo para amizade, follow, like, etc. Encontram um tipo qualquer que viram na televisão toca de mandar um pedido de amizade no Facebook, baseado num like e num comentário tipo “altamente”. Trocaram um cartão de visita num congresso qualquer, sai um pedido de amizade no LinkedIn. É um fartar de colecionar cromos.

Recebo pedidos de “amizade” todos os dias. Amizade? Oh amigo eu nunca te vi mais gordo! Ah, falámos de raspão num congresso? Não sou teu “amigo”, nem sequer te conheço. Recuso e ignoro diariamente meia dúza de “amigos”. Só me “ligo” a pessoas que realmente conheço, com quem passei mais de uma ou duas horas. E há pessoal que se zanga. Que amua. Que se sente rejeitado. É como os colecionadores de cromos, quando era eu é que tinha o cromo difícil e não o queria trocar.

O que as pessoas parecem não perceber, tanto os que colecionam cromos nas redes sociais como os que aceitam serem cromos colecionáveis, é que quanto mais se ligam menos valor tem a rede social em causa. De facto julgam até o contrário: quanto mais ligações tiver, melhor, mais valor. Errado. Se o valor fosse maior com o número de ligações, a coisa era simples: o Facebook (ou outra rede social qualquer) ligava toda a gente a toda a gente. Valor dessa rede social? Zero.

Eu, António (faz de conta), sou amigo do Bruno e temos uma ligação de “amizade”. E o Bruno é amigo do Carlos com quem tem uma ligação. Esta rede tem valor porque a minha ligação ao Bruno permite-me chegar ao contacto com o Carlos. Mas se eu, António, estiver ligado ao Carlos directamente, sem que haja uma relação real, esta pequena rede passou a ter um valor de zero. A minha ligação ao Carlos é fictícia e a ligação do Bruno ao Carlos perdeu valor porque para chegar ao Carlos o António, supostamente, não precisa do Bruno.

Alguém se lembra da rede social que ia mudar Portugal? O Startracker? Pois é. Vale zero. Toda a gente se ligou a toda a gente. Toda a gente era “amiga” do Presidente da República. Valor final: zero. Resultado final: os utilizadores abandonaram o barco. Especialmente os colecionadores de cromos.

Quando vejo perfis no Facebook, no Twitter, no LinkedIn e outros, com coisas tipo 543 amigos, 1254 followers, 871 ligações profissionais, a minha reacção é logo: tanga. E é logo um factor de perda de credibilidade. Para mim é alguém que não reserva nem preserva as suas ligações pessoais reais, alguém que quer mostrar algo que não tem, que se quer credibilizar por uma rede de conhecimentos que, na realidade, é completamente fictícia. É o que dá colecionar cromos.

 


27
May 11

MJ II – Concursos Públicos para Profissionais

A última polémica destas eleições, a questão dos concursos públicos à medida, fez-me lembrar mais uma historieta da minha passagem pelo Ministério da Justiça…

A certa altura um dos organismos do Ministério lançou um concurso para compra de um conjunto de equipamento configurado de determinada forma. Não era nada do outro mundo, eram p’raí 10 ou 12 mil euros. Mas era o suficiente para ter de se fazer consulta pública a pelo menos 3 fornecedores.

Chega o dia de ver as propostas e deparo-me com 3 propostas quase iguais. Tipo: uma tinha um parafuso a mais e custava mais 10€, a outra tinha uns cabos piores e custava menos, etc. Para além disso fez-me alguma espécie ver 3 propostas, apresentadas por 3 distribuidores/fornecedores diferentes, com praticamente o mesmo e exacto equipamento e configuração. Do mesmo fabricante.

Fiz meia dúzia de perguntas e fiquei esclarecido…

Então parece que é frequente acontecer isto: um fabricante quer ganhar um concurso; mas não quer apresentar só uma proposta e concorrer com outros fabricantes; pega em 3 dos seus distribuidores e são eles que concorrem, com uma proposta definida pelo fabricante com pequenas alterações para cada distribuidor e pequenas alterações de preço; umas vezes ganha um dos distribuidores, outras vezes ganha outro. WIN.

Como o ITIJ tinha de aprovar todas as despesas em tecnologias e sistemas de informação, o Conselho Directivo ao qual presidia não aprovou a despesa e anulou o concurso. Ainda se deu uma descasca nos responsáveis do organismo em causa. E uma stickada nos distribuidores e fabricante: voltavam a repetir a gracinha e ia tudo recambiado para as autoridades competentes.

(Eu sou assim, um gajo afável e tolerante, dou sempre uma 2a oportunidade às pessoas. Mesmo assim, à conta desta e doutras, não consigo mesmo arranjar amigos. E ainda dizem que tenho mau feitio. É uma injustiça.)

Quanto aos concursos feitos à medida que agora estão na berlinda, só tenho a dizer uma coisa: meninos. Não sabem fazer as coisas. Os verdadeiros profissionais dos concursos são muito mais sofisticados…

 

 


13
May 11

Esoterica VI – O Bin Laden das Diskettes

A notícia de que Bin Laden usava chaves USB para enviar email fez-me lembrar uma historieta…

No início da Esoterica, algures em 93, quando ela era apenas eu e o Luis Sequeira (mais tarde juntaram-se 3 sócios do Porto que não conheciamos de lado nenhum mas que queriam revender o serviço no Porto), apenas disponibilizavamos email e Usenet news. Não tinhamos uma linha dedicada, era tudo feito por ligações modem USR a intervalos regulares, usando o protocolo UUCP. Então e websites e tal? Não era problema, ainda não existiam websites.

Com modems a 9600 bps é bom de ver que a largura de banda existente não dava para tudo: só podiamos ligar durante X minutos, não podiamos ter a linha sempre ligada (uma fortuna em períodos telefónicos); o email não era problema, a não ser que alguém se lembrasse de enviar ficheiros em attach (coisa rara na altura); o email não era problema mas as news eram, especialmente se nos pediam (e pediam) grupos como alt.binaries.pictures.erotica.* ou o alt.binaries.software.

Vai daí então montámos a nossa própria SneakerNet: trabalhávamos ambos no LNEC, um dos únicos sítios em Portugal com acesso Internet permanente; duas vezes por dia, ao almoço e depois ao jantar, fazíamos o download das mensagens dos newsgroups mais interessantes ou requisitados; gravávamos em diskettes; e depois íamos ao servidor da Esoterica colocar as mensagens disponiveis localmente. A Amazon ainda não tinha aparecido, mas estávamos muito à frente dela.

E foi assim que eu me tornei o Bin Laden das diskettes.

 


09
May 11

PS e PSD: Programas Eleitorais em 100 Palavras

Sem grandes comentários e delongas, seguem os programas do PS e do PSD analisados sob a forma de tagcloud com as 100 palavras mais frequentes.

Tagcloud com programa eleitoral do PS

Tagcloud com programa eleitoral do PS

Tagcloud com programa eleitoral do PSD

Tagcloud com programa eleitoral do PSD

Ambos os partidos se preocupam com Portugal (antes fosse) e com o próprio partido (claro).

No programa do PSD agrada-me a referência ao “desenvolvimento” e às “empresas”. Preocupa-me aquele grande “Estado” ali no meio.

O programa do PS reconhece de alguma forma a importância da “economia”, algo bastante abstracto. Preocupa-me aquele “DEFENDER” (assim, em maiúsculas) e aquele “social”.

Em ambos os casos faz-me espécie não ver a palavra “Portugueses” destacada.