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From: mvale…@ruido-visual.pt (Mario Valente)
Newsgroups: mv
Subject: Compro o que e nosso… se for bom.
Date: Sat, 11 Apr 09 15:14:21 GMT
Aqui ha uns tempos atras houve para ai uns protestos contra
a producao de vinho do Porto ou de vinho verde fora de Portugal,
nomeadamente na California e na Australia.
Que nao senhor, que os nossos vinhos e que eram os verdadeiros
e e que eram bons, o resto era zurrapa.
Como e patente e consequente, se um portugues chegasse a uma
qualquer localidade ou pais que produzisse as ditas zurrapas, nao
aceitaria como justificacao para o seu consumo o facto de serem
“producao nacional” e de que “o que e nacional e bom”. Um vinho do
Porto nao e bom porque e portugues; nem e mau porque e produzido
na Australia; e bom porque e bom e Portugal e bom a fazer vinho
do Porto.
http://www.lusowine.com/displayarticle1076.html
Curiosamente, ao mesmo tempo que nao aceitamos que um americano
ou um australiano produzam ou bebam um “vinho do Porto” produzido
localmente com a simples justificacao de que “e nacional”, achamos
que se justificam campanhas tipo “o que e nacional e bom” ou, mais
recente, “Compro o que e nosso”.
http://www.compronosso.pt/
Ate se podia deixar passar o facto de tal tipo de campanhas ser
protecionismo encapotado, algo contra o qual protestamos (quando
nao nos convem) e contra o qual existem leis vigentes na comunidade
europeia.
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1358770&idCanal=57
http://is.gd/rVQP
Ate se podia deixar passar o facto de este tipo de campanhas ser
xenofobia declarada (“os produtos alemaes sao melhores mas eu compro
portugues porque nao gosto dos gajos”) e, no limite, poder ser uma
atitude racista (“nao compro os produtos turcos, pronto, ate podem
ser melhores…”). E um passo ate passarmos a contratar portugueses
apenas porque sao portugueses, “produto nacional”, o que ate parece
ser uma boa ideia excepto quando a Suica, a Franca ou o Luxemburgo
passarem a aplicar a mesma logica e despedirem os emigrantes
portugueses para dar lugar ao seu “produto nacional”.
O que nao da para deixar passar em branco e o facto de este tipo
de campanha ser prejudicial para o consumidor portugues, para as
empresas portuguesas e, em ultima analise, para Portugal.
Se queremos ser capazes de competir e vencer num mercado global,
nao e com nacionalismos bacocos que vamos la. Nao e com produtos
que sao uma merda mas que compramos porque sao nacionais. So
vamos la se formos capazes de competir na base da qualidade em vez
de competir na base da nacionalidade. So seremos capazes de criar
empresas e produtos competitivos se nos compararmos com os melhores
e formos capazes de os superar. As empresas portuguesas que aderem
a este tipo de campanhas mostram que nao sao capazes de competir
em qualidade e, a longo prazo, que se estao a enganar quanto a sua
competencia e capacidade produtiva. Um dia quando acordarem da sua
“qualidade” e “mercado” nacional, tem a porta um produto melhor e
mais barato. E depois fecham.
Ironico mesmo e ver gente supostamente esclarecida a defender e
promover este tipo de iniciativa como fomentadora de criacao de
marcas e de qualidade, como fomentadora do empreendedorismo e
ate fomentadora da economia nacional.
http://portugalstartup.com/2008/08/curtas-startup/compro-o-que-e-nosso/
http://www.phc.pt/portal/programs/nwwwview.aspx?stamp=ed9866d32gc.3gbc.8f25.g8g
http://www.cgd.pt/Institucional/Responsabilidade-Social/Educacao/Pages/Compro-O-Que-E-Nosso.aspx
O “Made in Japan” nao se tornou um simbolo de qualidade a
custa de qualquer campanha estatal ou empresarial de indole
colectivista/socialista. Foi gracas ao trabalho de empresas como
a Yamaha, a Sony, a Honda ou a Toyota, que souberam enfrentar,
competir e ganhar a gigantes americanos. Fazendo melhor e mais
barato.
Digam-me la se compravam malhas Jotex em vez de Zara ou em
vez de Armani. Digam-me la se preferem comprar ou ter uma
maquina Delta-Q em vez de uma Nespresso…
Temos excelentes produtos nacionais. Mas estes so continuarao
a ser excelentes se os comprarmos pela excelencia. Compra-los
“porque sim” e prestar um desservico aos portugueses e ao pais
e e subestimar as empresas e os empreendedores portugueses.
— MV