(NOTA: este artigo foi publicado aqui na Exame Informática, na minha coluna de opinião Franco Atirador)
O assunto das últimas semanas tem sido o Google Plus, a primeira rede social do Google. A primeira não, desculpem: antes a Google já tinha lançado, sem sucesso, o Google Wave. Não, a segunda não, a terceira: antes a Google já tinha lançado o Google Buzz. Não, a terceira não, a quarta: antes a Google já tinha lançado o Orkut.
Estranho? Não. Depois de 20 anos de uso de Internet e 25 anos de uso de telecomunicações informáticas uma pessoa vai-se habituando a ver as histórias repetidas.
O Twitter fez há uns meses 5 anos. É verdade, não apareceu o ano passado, existe desde 2006. Registei-me um ano depois em 2007 e não liguei muito. Passei depois a usar intensivamente a partir do fim de 2007. Mas o facto é que, podendo parecer uma novidade para muitos, o Twitter não é mais do que uma versão do IRC do fim do anos 90 (que muitos chamavam de mIRC erradamente). Sendo certo que, na verdade, a inspiração para o Twitter começou como uma extensão do conceito de status que era usado no ICQ, no MSN e outros.
O Facebook começou em 2004 mas antes já existiam o Hi5 e o MySpace. Antes do Hi5 e do MySpace já existia o Friendster. Os blogs já vão ficando fora de moda, mas mais não eram do que uma evolução dos grupos de news Usenet. E estes últimos tinham muito das listas Listserv da Bitnet e dos tópicos da Fidonet (ah! A Fidonet… uma rede social em que um gajo para se ligar outro tinha mesmo de ligar com o modem de um lado ao outro… só para homens de barba rija…). E a inspiração mais directa do Google Plus foi uma rede social chamada Friendfeed que acabou por ter sido comprada pelo Facebook (nunca percebi muito bem para quê). De facto o interface do Google Plus é uma cópia chapada do Friendfeed.
A experiência de anos no uso destas várias comunidades online também me permite ver outra história repetida.
No início de cada uma destas comunidades há um grupo reduzido de utilizadores, nomeadamente os early adopters. Esse grupo reduzido permite que a comunidade em causa seja bastante coerente, produzindo informação e a sua partilha com alto valor acrescentado. Depois, lentamente, vão aparecendo mais utilizadores, com um aumento correspondente mas cada vez mais marginal de produção de valor. A partir de certo ponto, nomeadamente quando a comunidade online ou um subgrupo (círculo de amigos) atinge o número de Dunbar (150), a coisa entra em ruptura começando rapidamente a perder valor (lembram-se dos colecionadores de cromos?). O facto de passar a haver pessoas que não se conhecem leva, rapidamente a discussões infindáveis e à agressão pessoal. Passa a haver utilizadores que se valem da comunidade para fins diversos da mesma (comerciais, por exemplo, ie. Spam). E todas as conversas, de acordo com a lei de Godwin, acabam por terminar com guerra sobre política, Salazar ou Hitler.
Os newsgroups eram giros até surgir o spam. O IRC era giro até aparecerem os Zézés Camarinhas do online. Os blogs eram giros até aparecerem os anónimos. O Facebook era giro até aparecer o Farmville. O Twitter era giro até aparecerem os colecionadores de cromos.
O Google Plus está neste momento no início, sendo certo que foi a rede social que mais rápido cresceu (20 milhões de utilizadores em pouco mais de 2 semanas). Ainda tem o feeling de uma comunidade pequena, de interesse, de criação de valor. Embora o G+ tenha mecanismos novos e diferentes para gerir o crescimento da comunidade, é inevitável que acabe por se transformar num espaço inviável que deixa de ter interesse para o grupo inicial de utilizadores. E venha o próximo espaço online onde se possa interagir de forma válida sem ter que apanhar com os chatos.
É caso para dizer que com o Google Plus: plus ça change…