Há uns anos 10 anos atrás resolvemos mudar de casa. E como o nosso banco andava armado em parvo, resolvemos mudar de banco para aquele que nos desse as melhores condições. Curiosamente, depois da mudança, o banco inicial andou durante 2 ou 3 anos a oferecer-nos o que dantes não podia ser; até que acabámos por mudar de volta, não pelo aliciamento mas porque o novo banco passou ele a armar-se em parvo.
Anyway… A coisa acabou por ter piada porque, quando nos dirigimos ao soon-to-be novo banco para contactar uma pessoa recomendada por um amigo, acabo por descobrir que era um amigo de longa data, colega num dos primeiros empregos que tinha tido. “Eh pá! tás bom e o camandro!…”. A conversa habitual. Lá começámos a dar andamento aos trâmites e esse amigo pede-me os dados pessoais. Quando lhos começo a dar e ele começa a debitar no computador, diz ele: “Eh pá, não é preciso porque eu já tenho aqui os teus dados todos”. Como?! Eu nunca tinha sido cliente do banco, nem do grupo. Têm os meus dados todos?! Mau… Comecei logo a fazer teorias da conspiração. Privacidade, big brother e tal. “Como é que têm os meus dados todos?”, perguntei. “Foste tu que os deste. Na data tal do tal no balcão das empresas na Avenida X”. Fiz rewind, lembrei-me e comecei a rir…
Uns anos antes tinha resolvido meter-me numa aventura e achei que eram verdade aquelas coisas da TV tipo “venha ao nosso banco, apoiamos jovens empresários”. Hoje já não é empresários mas é parecido: “venha ao nosso banco, apoiamos inovação e empreendedores”. A mesma treta. Mas na altura lá fui ao banco. Explicar o que é que queriamos fazer, porque é que achavamos que o TCP/IP ia ganhar ao X.25 (literalmente) e a Internet era uma coisa boa. Já estão a ver o filme: ficaram com os dados (para a basezinha de dados de direct mail) e ignoraram-nos completamente. O que não é de admirar, visto que ainda não tinha o ar respeitável de quem corta o cabelinho e levava o mesmo blusão de cabedal que levei ontem para os Living Colour.
E lá continuei a rir. “Porque é que te estás a rir?”, pergunta-me. “Porque já me lembro onde é que dei os dados e porquê.”, disse eu. A rir-me. E diz o amigo: “Porquê?…. Espera…Não acredito! Foi por….”. Pois. Pois foi. Foi o banco a ficar a ver navios por causa das suas “metodologias”, os seus “processos”, as suas “burocracias”, mas acima de tudo a sua aversão a tudo o que sai fora dos parâmetros do sistema. Perderam a oportunidade de fazer um bom investimento e de ter um bom retorno.
Hoje, já com mais experiência, mais conhecimento e mais paciência, estou-me a rir de antemão. Como diria o outro “plus ça change…“. Os termos mudam, os “JEEP” de ontem são os “empreendedores” de hoje, os SAJE de ontem são os QREN de hoje. Mas as tretas continuam as mesmas. A aversão a tudo o que sai fora do quadrado continua. E depois o tempo passa, as coisas mudam e eu fico-me a rir.
Nas palavras imortais dos Propellerheads e de Lady Shirley Bassey: “History Repeating“.