Da Imoralidade dos Salarios Altos

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From: mvale…@ruido-visual.pt (Mario Valente)
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Subject: Da Imoralidade dos Salarios Altos
Date: Wed, 30 Jan 08 20:49:21 GMT

Depois do Sr Presidente da Republica (no discurso de Ano Novo) e do Sr Bastonario da Ordem dos Advogados (no discurso de abertura do ano judicial), foi agora a vez do Sr Primeiro Ministro (no debate mensal na Assembleia da Republica) se referir aos salarios altos dos executivos. Neste caso para reforcar as “duvidas” do Sr Presidente da Republica e as “criticas” do Sr Bastonario com um argumento de nivel mais filosofico: “os altos salarios dos executivos nao sao moralmente justificaveis”.

Comece-se por pegar na moral: a moral vigente (colectivista e altruista) nao é *a* moral, unica e verdadeira. E o que pode ser imoral numa logica socialista poderá ser moral num outro enquadramento . Nomeadamente, e para que nao fiquem duvidas, quando a moral de referencia seja uma moral individualista, capitalista e liberal. Nao vou sequer discutir qual é a melhor; nenhuma é; são morais diferentes.

Mas o que esta em causa é que a questao dos salarios (dos executivos ou de qualquer outro profissional) não é uma questao da moral, da etica ou da filosofia. É uma questao da economia. E muito simples até, dos principios basicos da economia: oferta e procura. Ha muitas batatas, as batatas sao baratas. Ha poucas batatas, as batatas sao caras. É simples.

No caso dos executivos a lei tambem se aplica. Salvo as obvias excepções, toda a gente tem dois bracinhos e duas maozinhas. Não é de espantar portanto que o trabalho braçal seja pago por baixos valores. Salvo raras excepcões, ou seja, os executivos, existem poucas pessoas capazes de criar uma ideia, lançar um empreendimento, liderar uma equipa, planear uma estrategia de longo prazo, pensar um negocio, criar empregos, valor e riqueza. Nao é de espantar portanto que, sendo poucos, tenham de ser bem pagos.

O caso é especialmente notorio em Portugal: primeiro porque ha poucos com a formação e estaleca para serem executivos; logo, menos oferta, salarios mais altos; segundo porque ha muitos (demasiados) com pouca formação; logo muita oferta e salarios baixos. E o fosso é assim maior no nosso caso.

Os salarios altos pagos aos executivos das empresas não são pagos com dinheiro de impostos nem com dinheiro roubado a alguem. Nem muito menos cresce nas arvores. Esses salarios sao pagos pelos accionistas que têm interesse em ter o melhor executivo a dirigir a empresa, nomeadamente aquele que dá mais garantias de produzir resultados, criar riqueza e distribuir dividendos. E é esta a justificação moral dos salarios elevados dos executivos: é que esse salario e a crenca, a aposta, o investimento e a esperanca de muitos accionistas (pequenos e grandes) de obterem para as suas poupancas (dinheiro que nao gastaram em viagens foleiras ao Mexico ou em roupa de marca) uma maior remuneração e um complemento ao, se calhar, baixo salario que tem. Os salarios altos dos executivos são, ao fim e ao cabo, o sumário das expectativas de grande parte da sociedade; do verdadeiro colectivo social, por contraposição ao “social” dos livros.

É engraçado que nao oiço ninguem falar contra os altos salários dos jogadores de futebol. Nesse caso todos entendem que os melhores são poucos e que o que ganham é moral; ao fim e ao cabo está em jogo a “moral” do clube preferido. Já sei que virão os contra-argumentos do “tempo limitado de profissão” e do “alto risco”. Argumentos que no entanto se aplicam, ainda com maior significancia, no caso dos executivos.

Portanto fica combinado: o proximo artista a mandar vir contra os salarios altos dos executivos trata de dizer de que clube é e qual o jogador que despede ou a quem corta o salario.

 

— MV

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