Kill Your Idols

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From: mvale…@ruido-visual.pt (Mario Valente)
Newsgroups: mv
Subject: Kill Your Idols
Date: Sat, 14 Apr 07 03:57:21 GMT

(…this one goes off in Portuguese; its strictly personal
and local…)

O meu amigo Luis Sequeira, fez ha alguns dias um post[1]
sobre o qual importa fazer alguns reparos.

O primeiro reparo e esse mesmo: e um amigo. E portanto
ha que dar um desconto a um amigo que ve outro a entrar
nos “quarentas” e resolve fazer-lhe alguns elogios para
lhe levantar a moral, nao va o gajo dar-lhe o badagaio
dai a uns dias com uma crise de meia idade.

Os restantes reparos dividem-se de forma lata em
correccoes de pormenor, em primeiro lugar, e uma
correccao de logica, em segundo.

Em primeiro lugar algumas correccoes de pormenor:

– eu nao hackei passwords de root nenhumas! Nao percebo
nada disso e nego veementemente qualquer insinuacao do
genero…

– o PC a correr Linux foi posto online em Janeiro de 94
(e nao Junho; embora seja verdade que so em Junho tinha
mail e news por UUCP). Para alem disso nao era “velho”!
Era um 386 a 25Mhz e 4Mb de RAM que me custou uma pipa
massa por via de um emprestimo do Totta. E a ligacao era
a 14.4 com o meu USR Courier (ainda o tenho guardado).

– a Esoterica foi constituida em Fevereiro de 95, com
os 5 socios originais. No entanto funcionou antes em
regime Luis+Mario Lda; juntaram-se a nos depois mais 3
socios, que nao conheciamos de lado nenhum ate terem
vindo ter connosco para nos comprar o acesso e revender
no Porto.

– continuo a defender o libertarianismo, o capitalismo
laissez-faire (ou, como dizia um colega meu, dizendo
que eu era um gajo perigoso, o anarco-capitalismo) e
tambem o transhumanismo e o extropianismo. Sao tudo
facetas de algo que me e querido: individualismo.

– e esse individualismo que em parte justifica que nao
tenha sido partida nenhuma a oportunidade de trabalhar
no ITIJ. Foi para mim uma oportunidade e tem sido
uma aprendizagem; se ao mesmo tempo, estando a trabalhar
com um executivo socialista e portanto colectivista,
posso contribuir algo para o pais, ainda bem.
Parafraseando o Kennedy “its not a matter of what you
can do for your country or your country can do for
you; its what both can do for each other”. O mal do
Mundo e alguns acharem que as pessoas devem fazer todo
e qualquer sacrificio a bem da Nacao; e de outros
acharem que a Nacao (ou o Estado) tudo deve fazer a
favor deles. Em ambos os casos estamos a falar de
colectivistas.

– havia coisas da biografia desse tempo que se calhar
eram mais importantes, mas que vao ter de ficar para o
livro (ou para um post mais tarde). Assim de repente
recordo-me da noite em que o Laureano recebeu um SMS de
indisponibilidade dos servidores; basicamente porque
tinham sido todos roubados :-). Essa historia e as 24h
a recuperar o sistema davam um filme… mas agora nao
temos tempo :-)

Em segundo lugar uma correccao a logica de fundo,
nomeadamente a proposicao de que tive azar no pais em
que nasci e que noutro teria outro reconhecimento:

– nao considero ter tido azar em ter nascido em Portugal;
depois de ter visitado tanto os Estados Unidos como a Gra
Bretanha, ficou claro que nao so prefiro o nosso clima
como prefiro tambem o nosso ritmo. Aquela historia de
acordar as 6 da matina e nao almocar, andar sempre numa
pressa exagerada, nao e para mim. Sou demasiado comodista
e demasiado preguicoso.

– acresce a isto o facto de, se tivesse nascido noutro
pais, com certeza haveriam alguns milhares de gajos mais
inteligentes do que eu. Assim, sendo certo que Portugal
tem algumas desvantagens competitivas, beneficio da vantagem
de “ter olho em terra de cegos”.

– a notoriedade demasiada acarreta alguns dissabores, como
ja algumas vezes tive a experiencia. Uma das desvantagens
implicadas na notoriedade e o facto de ser suposto ser-se
um exemplo ou um modelo. Isso e coisa que recuso. Nao sou
nem quero ser um exemplo ou um modelo. Atras disso vem
os tipicos condicionantes ao individualismo (sim, isto
outra vez) do estilo “uma pessoa na sua posicao nao pode
dizer….”, “uma pessoa com a sua responsabilidade nao pode
fazer…”. E nao me estou a referir ao trabalho actual no
ITIJ e no Ministerio da Justica. Ja ouvi as mesmas balelas
relativamente a posicao de professor na Universidade
Catolica; ja ouvi as mesmas tangas quando dirigia a Esoterica.
Recuso-me a ser limitado no que sou, no que digo e no que
faco apenas porque desempenho um determinado papel, uma
determinada funcao. Quem quer gosta, quem nao quer nao come.
So faltava agora alguem convidar-me para um cargo mas
dependente de eu cortar o cabelo… (oh wait… isso ja
aconteceu… my bad…). Kudos para o Sr Secretario de
Estado da Justica e para o Sr Ministro da Justica por terem
visto para alem da guedelha.

– dito isto, sigifica que eu estou feliz com o status quo
de quem nasce em Portugal? Nao me chateiam a tacanhez e o
provincianismo? Claro que sim. Chateia-me ter proposto a
compra do Sapo a Navegante ao conselho de administracao
da Esoterica e ter sido ignorado; chateia-me ter proposto
a Media Capital montar um ISP wireless e ter “perdido” a
discussao para um artista com mais anos e menos cabelo
(so porque eu tinha menos anos e mais cabelo); chateia-me
apresentar a outros a mesma proposta e ela ser classificada
de “impossivel” por um “inginheiro” porque, ao fim e ao
cabo, ele tinha tido uma cadeira de Antenas; chateia-me
ter proposto a Oni em 2002 aquilo que para todos os efeitos
veio a ser o YouTube so porque “se ainda ninguem fez e
porque e muito arriscado”.
Chateia-me acima de tudo isso, a incapacidade portuguesa
de correr riscos, de aprender com os falhancos, de aceitar
o que e novo ou diferente, de experimentar. E isso que
impede que muitos portugueses facam coisas e que tenham de
se mudar para outros paises. E que o que impede que um
portugues escreva um clone de Unix ou crie a nova versao
da Web, nao e a existencia de um Major Valentim Loureiro; e
a existencia de muitos Alferes Lopes da Silva que nao matam
mas moem… O Pais, a Nacao, o Estado ou o Governo nao sao
de culpar; ate porque nao sao eles que impedem nada; muito
menos os portugueses; mas a “logica” vigente, essa… nao
impede, mas dificulta muito a vida de quem quer fazer algo
de maneira diferente.

— MV

[1] http://arundel.wordpress.com/2007/04/08/o-triunfo-dos-geeks-nacional/

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