Vem o post e o título a propósito daquilo que falhou nas últimas eleições. Versão TL;DR: não foi o Cartão de Cidadão, foi você que não se informou e foi o Estado que não o informou.
Dito isto, tendo estado envolvido de 2005 a 2008 em 5 processos eleitorais e tendo tido a oportunidade de conhecer uma parte do processo (que não todo), vale a pena explicar como se processam umas eleições do ponto de vista operacional. Talvez assim fique claro para o cidadão e alguns jornalistas e comentadores ignorantes (estou a olhar para si prof. Marcelo Rebelo de Sousa) onde é que o problema radica.
Vamos lá então…
No dia das eleições o eleitor desloca-se à sua mesa de voto, normalmente instalada numa junta de freguesia ou numa escola, identifica-se (mais sobre isto adiante), vota e vai à Igreja, vota e vai almoçar um cozido à portuguesa (o do Tico Tico em Lisboa é porreiro), ou então vota à tarde e vai fazer o passeio dos tristes: dantes era a Costa, Sesimbra, Cascais, Sintra, etc. hoje em dia é o centro comercial mais próximo. É depois disto que começa a parte operacional.
Fechada a mesa de voto, são contados os votos em cada uma das mesas. Todo este processo é organizado pelas autarquias e pelo Ministério da Administração Interna, através da Direcção Geral da Administração Interna, em particular a Direcção de Serviços de Apoio ao Recenseamento e Processo Eleitoral (antigo STAPE, Secretariado Técnico dos Assuntos para o Processo Eleitoral).
Os votos são então levados para o Governo Civil mais próximo, para que os resultados sejam compilados e comunicados eletronicamente ao sistema informático de divulgação de resultados, suportado pelo Ministério da Justiça nomeadamente pelo Instituto das Tecnologias de Informação na Justiça. É neste passo que às vezes há algumas situações caricatas, nomeadamente com algumas pessoas das juntas de freguesia que vão festejar a vitória mais cedo a beber copos num bar qualquer e depois tem de ir lá a GNR buscá-los para entregarem os ditos votos no Governo Civil.
Tendo em conta o que aconteceu nas eleições autárquicas de 2005 e nestas eleições presidenciais, convirá esclarecer algumas coisas:
- 1) os resultados no dia das eleições são resultados provisórios, sendo os resultados finais contados e confirmados mais tarde pelo Tribunal Constitucional (amanhã é a contagem para os resultados finais destas últimas eleições);
- 2) o sistema que recebe e compila os resultados é completamente independente do sistema que divulga os resultados; em 2005 a falha deste último durante cerca de 45 minutos nunca pôs em causa o primeiro que é o verdadeiramente importante;
- 3) estes dois sistemas são independentes do site do MAI/DGAI/DSARP/STAPE, do site de informações sobre o recenseamento e do site da Comissão Nacional de Eleições (CNE). Todos estes sites também são independentes uns dos outros e não têm nada a ver com o processo eleitoral. Muita boa gente acede a um deles, não consegue aceder, e “ai jesus” que as eleições não estão a funcionar. O que é uma burrice decorrente de não se informarem, de não serem informados, e de os Portugueses terem um vício de procurar coisas que correm mal e acharem culpados. Nada como um bocadinho de sangue para animar um dia que, no geral, é uma chatice. Foi o site site de informações sobre o recenseamento que teve problemas durante estas eleições (mais adiante);
- 4) o que faz a CNE? Basicamente nada, em termos operacionais. É um orgão fiscalizador que faz parte da Assembleia da República. Quando as coisas correm bem ninguém lhes liga; quando correm mal são os primeiros a falar na televisão a dizer que não têm nada a ver com o assunto;
E pronto a coisa está feita. Ou então não…
Vamos voltar atrás: o eleitor identifica-se como? À partida deveria bastar o Bilhete de Identidade, hoje em dia o Cartão de Cidadão (note-se o “de” e não “do” ou “da”; politiquices…). O BI/CC (e não CU como dá jeito a alguma imprensa publicar; em Portugal também somos todos uns cómicos e folgazões que gostam da rambóia) tem um número único, uma assinatura e uma foto. Tá feito, identifica o artista que quer votar.
O problema é que, devido a questões históricas e operacionais, o BI (não o CC) não é suficiente. Não é suficiente porque não tem (não tinha) a morada/residência do eleitor. Não se pode (podia) portanto identificar o eleitor pelo BI: não dava para saber se ele (ela pronto) podia votar naquela freguesia e mesa de voto. Daí que se tenha inventado o belo do número de eleitor e o belo do cartão de eleitor (altamente falsificável diga-se de passagem, mas isso agora não interessa nada).
Então e agora, mesmo com o número de eleitor, como é que a mesa sabe que aquele eleitor, com aquele número de eleitor, pode votar naquela mesa? Entram em cena outra invenção “brilhante”, os cadernos eleitorais, resmas de papel impressas com as listas de eleitores afectos a cada freguesia/mesa. E aqui começa o problema: impressas em papel.
Primeiro problema: não dá para um eleitor votar fora da mesa de voto onde está registado. Não dá para mandar as lista nacional de cadernos eleitorais para todas as mesas de voto, cada uma recebe a sua. O eleitor, se está de férias no Algarve, ou vai até Fornos de Algodres para votar ou então chapéu. Se mudou de residência (outro problema), não pode votar onde agora mora.
Segundo problema: o artolas do eleitor, se mudou de residência, devia comunicar à nova junta de freguesia que agora é morador e informar o seu número de eleitor. Pois é, muita gente não faz isto. Eu moro há dez anos na Rua da Penha de França e ainda vou votar a Carnide. E a Cristina ainda vai votar a Benfica, umas vezes à Escola Pedro de Santarém outras à Escola Quinta de Marrocos (mais um problema). Somos portanto uns artolas.
Terceiro problema: então mas a junta de freguesia antiga não devia dar baixa do eleitor? Devia. Só que não sabe porque o eleitor se está basicamente a cagar e não comunica a baixa. Para além disso a junta de freguesia também se está a cagar porque quanto mais eleitores tiver registados mais subsídios recebe. Ah pois é.
Quarto problema: se um eleitor comunica à junta de freguesia onde agora mora que é eleitor mas se esquece de comunicar à sua junta de freguesia original que se foi embora, há agora um eleitor que vale por dois. No limite pode ir votar às duas secções de voto. Tão a ver porque é que existem mais eleitores do que a população portuguesa?
Quinto problema: o eleitor nunca sabe onde vai votar. Umas vezes é na escola, outras vezes na junta de freguesia, outras vezes no quartel dos bombeiros. Antes de ir votar, o eleitor deveria consultar os editais (deves…) para saber em que local vota. Na verdade não o faz. Vai directo ao sítio onde votou da última vez. Depois às vezes lixa-se porque tem de ir para a fila noutro sítio. E chateia-se porque o País é uma vergonha e é do terceiro mundo.
Estão aqui a ver a cena? Desde sempre que é necessário consultar os cadernos e os editais. De antemão. Só que ninguém o faz: deixa tudo para a última e consulta lá no estaminé onde vota. O processo e os problemas que aconteceram nestas eleições já existiam antes, só que em menor escala.
Os eleitores, como de costume, deixaram tudo para a última. Não consultaram os cadernos eleitorais, em papel, por telefone, por SMS ou online. É certo que, pelos vistos, o Estado também não os informou (problemas de orçamento?), como fez em eleições anteriores. No dia, da mesma forma que anteriormente se acotovelavam eleitores no dia das eleições para ver os cadernos e em que secção votavam, acotovelaram-se desta vez nos SMS, no telefone e no site. Conclusão: o site foi à vida.
É a vida… Os eleitores não sabem, não querem saber, o Estado não explica, ah e tal, e eu gosto de trabalhar sim senhor, mas não os vejo a fazer nada.
Estes problemas todos, resolvem-se? Resolvem. Com o Cartão de Cidadão e com a informatização dos cadernos eleitorais.
É que o Cartão de Cidadão identifica de forma única o eleitor e contém a morada actual do mesmo. E quando há uma mudança (nas Finanças, na Segurança Social, etc) ficam logo todos os serviços a saber da nova morada. Nomeadamente o MAI, para alterar o local de voto respectivo. Acresce que, desta forma, pode o eleitor passar a votar em qualquer mesa de voto. O CC é usado para verificar a identidade e a residência e, depois de feito o voto (em papel, que isso do voto electrónico é uma parolice) o leitor votou e já não vota em mais lado nenhum. Só que há malta que não gosta. Há eleitores que gostam de ir votar ao cú de Judas. Há eleitores que têm uma ou mais moradas e não querem que lhas mudem. Há autarquias que lhes dá jeito manter o número de eleitores não se vão perder os subsídios. E há partidos que também não lhes fica em caminho, porque podia acontecer deixar de ter a mesma base eleitoral inflacionada que permite ganhar mais uns vereadores e tal.
Estes problemas estão resolvidos: o Cartão de Cidadão funciona perfeitamente e os cadernos eleitorais informatizados também. Qual é o problema então? O problema é que numa fase transitória, há quem ainda não tenha mudado para o CC e continue a ter BI e cartão de eleitor. Há quem se recuse a mudar. Portanto continua a ser necessário mapear BIs em cartões de eleitor e vice versa. Portanto continua a ser necessário, como dantes, que o eleitor se informe do local onde deve votar. Seja porque tem o BI e o cartão de eleitor ou seja porque tem o CC e foi feita a mudança de residência automaticamente (“tá mal, acabaram com a burocracia e tal, e eu agora já não posso ter teorias da conspiração sobre falcatruas nas mesas de voto com eleitores mortos e o camandro”). É preciso consultar um site, fazer um telefonema ou mandar um SMS. Mas isso é muito chato. Vai-se no dia e depois logo se vê.
Conclusão: o problema das eleições deveu-se ao eleitor e ao Estado. O eleitor não se informa. Julga que só tem direitos. Deveres népia. E o Estado também não informa. Custa dinheiro e não dá jeito. A componente tecnológica foi obviamente uma parte do problema e que podia ter sido precavida. Mas foi a parte menor do problema. A parte principal foram as deficiências no exercicio da cidadania e as deficiências de comunicação do poder estatal. Se os processos têm problemas e não são alterados, não há muito que a tecnologia possa fazer. Basicamente apenas vai replicar processos deficientes e multiplicar por 10x as suas consequências.
Excelente! :)
Então e o caso das pessoas que tiraram um CC (gosto mais do outro diminutivo) e sem mudarem de morada nem de freguesia lhes mudaram o Nr de eleitor? (embora tenham informado precisamente o contrario)
aquelas a que ficaram 30 minutos numa fila para na boca da urna serem informadas que: “o seu numero ja não existe, desloque-se a Junta de freguesia para saber o novo”
talvez para essas a tecnologia/processos falharam um pouco não?
creio que a dona Piedade do Cravo e Ferradura e’ que descreve bem a situação:
http://www.dn.pt/storage/DN/2011/highlight/ng1434558.jpg
>aquelas a que ficaram 30 minutos numa fila para na boca da urna
>serem informadas
>
Deviam ter-se informado de antemão.
— MV
Pois, se uma pessoa tem que se informar de antemão sobre tudo, mesmo que nada mude e não haja anúncio da mudança, então não há regras que valham e vamos passar a vida a verificar as regras… isto não é nada eficiente.
Assim não vamos a lado nenhum.
É assim tão difícil, uns dias antes enviar uma sms?
É claro que o Estado falhou, ao não informar correctamente os mecanismos de informação (passe a redundância). E muita gente não “se dá bem” com as novas tecnologias. Mas muita gente tem acesso à net, sabe como “as coisas funcionam”, mas não se dão ao trabalho.
A culpa é de todos! Não é só dos cidadãos nem só do Estado
Mário, certamente tens uma visão de quem já votou várias vezes e de quem fez parte de um dos componentes do processo. No entanto eu, como cliente recente do Estado, sinto-me bastante prejudicado a este nível.
Tenho 22 anos, e já devia ter tido 4 oportunidades de ir votar. Mas não tive. Já com 18 anos, não me foi permitido votar, porque 2 meses antes do momento de voto, os cadernos eleitorais são fechados. A constituição diz que cidadãos com mais de 18 anos podem votar, mas a realidade é que só podem votar com mais de 18 anos e dois meses.
A segunda fez apresentei-me no local de voto da minha frequesia, já com cartão do cidadão, e sem recenseamento eleitoral (obrigado à junta por essa inovação). Votei sem precisar de saber o número de eleitor. As coisas funcionaram muito bem.
Da terceira vez não pude votar porque me encontrava no estrangeiro em estudos, e precisava de me ter recenseado lá 6 meses antes da eleição, mas só lá estava à 2. Ou seja, o governo ignora totalmente quem está fora do país temporariamente ou recentemente.
Desta última vez, precisei de esperar 20 minutos — ainda assim tolerável — na fila para saber o meu número de eleitor, para saber a sala onde ia votar. Foi o único propósito para que serviu. Depois votei normalmente.
E esses 20 minutos foram porque o serviço SMS e Web estavam em baixo. E sim só tentei fazê-lo no local de voto. Se o estado fornece um serviço desse género, eu espero que funcione em tempo real, com um eventual delay de um máximo de 10 minutos. Quando vejo o meu e-mail no GMail, ou acedo ao Facebook ou youtube, vejo o conteúdo instantaneamente.
Porque haveria eu, que nunca tive um cartão físico de eleitor, não esperar que o Governo me dê esse número quando bem me apetecer? Eu cresci com a internet, e exijo que o governo saiba viver na mesma época que eu (e igualmente que não exclua os meus avós).
E onde votei a solução tinha sido simples: Ordenar as salas de voto por Nome ou Número de BI/CC e o número de eleitor era completamente desnecessário.
E no caso de umas legislativas, ou autárquicas, mesmo que alguém não fosse ao local de voto da sua freguesia, deveria ser possível votar na mesma. Há uma coisa chamada internet que serve para se partilhar informação. De uma forma privada, claro, mas neste caso servia perfeitamente.
>Já com 18 anos, não me foi permitido votar, porque 2 meses antes do
>momento de voto, os cadernos eleitorais são fechados.
>
Devias ter-te inscrito nos cadernos eleitorais antes. A data das eleições é conhecida de antemão alguns meses.
>A segunda fez apresentei-me no local de voto da minha frequesia, já
>com cartão do cidadão, e sem recenseamento eleitoral (obrigado à junta
>por essa inovação). Votei sem precisar de saber o número de eleitor.
>As coisas funcionaram muito bem.
>
Funciona portanto. E não tens de agradecer à junta, ela não teve nada a ver com o assunto.
>Da terceira vez não pude votar porque me encontrava no estrangeiro em
>estudos, e precisava de me ter recenseado lá 6 meses antes da eleição,
>mas só lá estava à 2. Ou seja, o governo ignora totalmente quem está
>fora do país temporariamente ou recentemente.
>
Pois. Essa é a única justificação para se permitir o voto electrónico. Desde que o
cidadão e as oposições não se levantem com teorias da conspiração sobre o
secretismo do voto. Se há medo de isso acontecer, chapéu. Vens a Portugal votar.
>Desta última vez, precisei de esperar 20 minutos — ainda assim tolerável —
>na fila para saber o meu número de eleitor, para saber a sala onde ia votar.
>Foi o único propósito para que serviu. Depois votei normalmente.
>
Funciona tudo, portanto. Esperaste 20 minutos porque não te informaste antes.
>E esses 20 minutos foram porque o serviço SMS e Web estavam em baixo.
>E sim só tentei fazê-lo no local de voto.
>
Pois.
>Se o estado fornece um serviço desse género, eu espero que funcione em tempo
>real, com um eventual delay de um máximo de 10 minutos. Quando vejo o meu
> e-mail no GMail, ou acedo ao Facebook ou youtube, vejo o conteúdo
> instantaneamente.
>
No problem. Basta que o Estado tenha um orçamento da mesma magnitude
para poder fazer isso. E que para isso o cidadão não se importe de pagar mais
impostos. E que as oposições, sejam quais forem, não venham gritar e berrar
por causa do dinheiro gasto.
>Porque haveria eu, que nunca tive um cartão físico de eleitor, não esperar
>que o Governo me dê esse número quando bem me apetecer?
>
Porque não precisas dele. E porque o Estado to dá se o “quando bem me apetecer”
não for no dia das eleições em conjunto com mais uma catrefada de burros que
exigem e querem ter direitos mas não cumprem os seus deveres.
>Eu cresci com a internet, e exijo que o governo saiba viver na mesma época
>que eu (e igualmente que não exclua os meus avós).
>
E o Estado exige que tu cumpras as tuas obrigações e os teus deveres de
cidadão. Se não o fazes não tens legitimidade nem moral nenhuma para falar.
>E onde votei a solução tinha sido simples: Ordenar as salas de voto por Nome
>ou Número de BI/CC e o número de eleitor era completamente desnecessário.
>
Acho que não estás bem a ver a coisa….
>E no caso de umas legislativas, ou autárquicas, mesmo que alguém não fosse
>ao local de voto da sua freguesia, deveria ser possível votar na mesma.
>
Já é possivel. Com o Cartão de Cidadão e os cadernos eleitorais informatizados.
Não é possivel neste momento passar à prática porque é um periodo de transição.
>Há uma coisa chamada internet que serve para se partilhar informação.
>De uma forma privada, claro, mas neste caso servia perfeitamente.
>
Não percebo bem o que queres dizer. E, se percebo, acho que não sabes do que
estás a falar. E mais: tu acreditas na possibilidade do voto electrónico. Inclusive
via Internet. Eu também. Há 80% de portugueses que não acredita. Enquanto isso
não mudar é escusado electronizar totalmente. Tem de haver um periodo de
transição.
— MV
Mário,
Obrigado pela lição sobre o processo como decorrem as eleições.
Infelizmente não posso estar de acordo com a opinião de que a culpa é dos cidadãos e do Estado.
Todas as condições eram previamente conhecidas e previsíveis. Havia que preparar os sistemas e as equipas.
Uns milhões de consultas ao longo de algumas horas de um só dia é um requisito perfeitamente aceitável numa época em que podemos ter um quad-core com 32 GB num portátil.
A componente tecnológica não podia falhar. Não há desculpas.
É preciso que os informáticos passem a lidar melhor com a realidade e assumam a sua responsabilidade.
Fernando
Experimenta meter “uns milhões de consultas numas horas” a correr num quad core com 32 gigas e depois diz-me qualquer coisa. ;)
E já agora, é claro que o estado não tem os servidores num portatil com um quad core com 32 gigas, mas convém não esquecer que (tal como já aqui li) não tem o orçamento da google :)
Eu tenho CC e não tive problemas. Mas eu sou um anormal. Quiz-me armar em fino e mandei uma sms no dia anterior em vez de esperar para a hora H.
Eu sei que não é possível passar a eletronico automáticamente, sem esperar que a população transite toda para CC. E há sempre os velhos da guarda que não confiam nesses sistemas, e teria de haver um fallback durante algum tempo para papel.
No entanto em relação ao meu dever, o estado é que me impediu de o cumprir em duas vezes. E não foi por falta de informação.
Da primeira vez, fui informado que só com 18 anos é que poderia fazer o recenseamento. E 2 meses antes da eleição não os tinha.
Da terceira vez, o Estado não me permitiu cumprir o dever de votar por ter um limite de 6 meses nos consulados/embaixadas.
E o meu ponto principal é que eu tenho o dever de me informar, concordo plenamente. Agora a diferença entre nós, é que eu acho que o atempadamente é meia hora antes. No próprio dia, como provavelmente 90% da população pensou (Ok, 90% dos que foram votar com CC).
Não me queixo dos 20 minutos que fiquei na fila (disse que era tolerável) para me informar. Queixo-me das duas outras alternativas que foram divulgadas e não cumpriram as expectativas.
E parece que o “Portal de Eleitor” concorda com a minha visão de atempadamente. Cito:
“A informação do nº de eleitor pode ser obtida neste portal (Saiba Onde Votar), através da Internet (http://recenseamento.mai.gov.pt), via SMS (escreva a seguinte mensagem: RE nº identificação civil sem check-digit data de nascimento AAAAMMDD, exemplo: RE 1444880 19531007 e envie para 3838) e na sua Junta Freguesia, que para o efeito está aberta no dia da eleição.”
Diz que a Junta de Freguesia esta aberta no dia da eleição, para fornecer o nº de eleitor. E sistemas de Internet e SMS supõe sistemas automatizados, disponíveis 24/7 (excepto bancos). Tendo esta informação, porque não hei de consultar o meu número de eleitor apenas no dia da eleição?
Bom artigo, a maior parte so que foi dito espero que seja de conhecimento de toda a população :) porque são “basicas”.
Faço parte da população deslocada a votar na junta da terra natal :) e mesmo tendo o CC com morada actualizada, facilmente mudei junto do MAI de volta para a terra natal o meu voto :D porque tenho o sentimento retrogada de ajudar a terra que me diz mais :) e como a actual conjuntura o permite…
Quanto ao site:
“No problem. Basta que o Estado tenha um orçamento da mesma magnitude para poder fazer isso. ”
Wow :) bastam uns trocos para assegurar um serviço estável mesmo com milhares de pedidos ao segundo, temos a nuvem da amazon para ajudar e depois bastam uns 5 servidores dedicados com grande capacidade (€1000) e pessoas competentes no serviço [não pessoas nomeadas ou empresas com afiliações a quem tem responsabilidades na atribuição – como acontece actualmente]
O voto electrónico chegará com o seu devido tempo.
TC
>Faço parte da população deslocada a votar na junta da terra natal :) e mesmo
>tendo o CC com morada actualizada, facilmente mudei junto do MAI de volta
> para a terra natal o meu voto :D porque tenho o sentimento retrogada de
>ajudar a terra que me diz mais :) e como a actual conjuntura o permite…
>
Sem comentários.
>Quanto ao site:
>“No problem. Basta que o Estado tenha um orçamento da mesma magnitude para poder fazer isso. ”
>
>Wow :) bastam uns trocos para assegurar um serviço estável mesmo com
> milhares de pedidos ao segundo, temos a nuvem da amazon para ajudar
>
Estás a sugerir q dados criticos da soberania portuguesa e da democracia
estejam alojados em servidores de empresas multinacionais que espiam e
muitas vezes manipulam dados a seu favor?
Nota: eu não tenho problema nenhum com isso. Mas mais de metade da
população tem. Já para nao falar nos politicos e nas politiquices. Estou só
a servir de advogado do diabo.
>e depois bastam uns 5 servidores dedicados com grande capacidade (€1000)
>
Drogaste. Não sabes do que estás a falar.
>e pessoas competentes no serviço [não pessoas nomeadas ou empresas com
>afiliações a quem tem responsabilidades na atribuição – como acontece actualmente
>
Teorias da conspiração. Não digo q não existam. Mas este tipo de argumentação
aplicado a qq casozinho que aparece significaria q toda a administração pública e
todos os politicos são incompetentes ou corruptos. E isso não é verdade.
— MV
Para mim, esta é apenas mais uma situação que ilustra que temos um governo à medida do seu eleitorado.
Ou q ilustra o eleitorado que temos e os governos que elegem e portanto merecem.
— MV
Concordo com o Telmo Cardoso, não custaria assim tanto obter servidores e pessoal qualificado que assegurasse um serviço decente.
A única razão que estou a ver para não se usar Amazon EC2 será a privacidade (não há confiança suficiente na cloud para dados mais sensíveis), mas mesmo assim parece-me exequível.
>A única razão que estou a ver para não se usar Amazon EC2 será
>a privacidade (não há confiança suficiente na cloud para
>dados mais sensíveis), mas mesmo assim parece-me exequível.
>
Ah pois é. Esse é o problema: é que os problemas de confidencialidade, privacidade e segurança são postos em causa. Portanto não é exequivel.
Note-se: nas Presidenciais de 2006, a seguir ao problema que houve nas Autarquicas de 2005, o problema foi resolvido com a ajuda à distribuição de conteudos da Akamai. Mas estavamos a falar do sistema de *divulgacao* de resultados, não dos sistemas de apuração. Já agora, os serviços da Akamai têm sido utilizados pelo ITIJ desde então para suportar os sistemas de divulgação.
— MV
Fantástica análise! Subscrevo completamente!
É exactamente o que tenho dito quando ouvia falar mal do sistema… é culpa de quem não se informou e do governo que não informou…
A ÚNICA informação que vi a dizer para a malta ir consultar foi nos comboios do Metro de Lisboa…
Eu por acaso na véspera vi os números mas não os anotei porque pensava que não iam ser precisos mas vi… também não percebi que o meu número, que estava diferente, queria dizer que votava noutra secção mas pronto…
Anyway, cá em casa somos 4 pessoas e temos 3 sítios de voto diferentes… não percebemos lá muito bem porquê, já que supostamente temos todos a morada igual, mas pronto… isto é no campo e as divisões são um bocado fuzzy…
Obrigado pelo texto! Revelou muitas coisas que não sabia :)
Sobre a parte informática…
Os servidores são extremamente caros:
– Redundancia dos servidores
– Armazenamento de dados e a sua redundancia, backup
– Local onde estão localizados (aluguer)
– Comunicações
– Suporte de hardware
– Suporte Técnico.
– Software
Agora, o estado falha a grande e isso vê se no portal das finanças, um site nunca pode falhar no momento em que ele vai ser mais necessário, mas falha constantemente.
Falamos de preços, estes servidores serão da HP ou IBM, estas empresas fazem contractos de talvez 5 ou 10 anos.
Durante este tempo é da responsabilidade dessa empresa a manutenção e actualização do equipamento.
O Suporte Técnico é Outsourcing de 24/7 e ganham mal porque existe muitas empresas pelo caminho a meter dinheiro ao bolso, muitas das vezes ordenado minimo.
A sala de servidores será localizada onde estão as grande comunicações do país, ex: MillenniumBCP, CGD, Siemens ou PT.
Isto é só um exemplo.