Do Ser XL – ou, Sobre os Quarenta

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From: mfvale…@gmail.com (Mario Valente)
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Subject: Do Ser XL – ou, Sobre os Quarenta
Date: Sun, 08 Mar 09 17:13:21 GMT

Faz por estes dias 2 anos que (re)iniciei este blog, 1 ano desde
que deixei o ITIJ/MJ, 1 ano desde que fiz 40 anos (o que significa
que daqui a umas semanas passo a ter 41) e cerca de 1 mes desde que
abandonei o Twitter.

Estranhamente (ou nao), estes factos estao interligados…

Tenho aqui escrito pouco neste ultimo ano. Por varias razoes.

Uma e o facto de ter usado mais o Twitter que, como disse, resolvi
abandonar ha cerca de 1 mes. O imediatismo do Twitter consome a nossa
atencao e elimina muita da vontade em explanar raciocinios de uma
forma mais estruturada e coerente. Foi interessante usa-lo como meio
durante este ultimo ano mas, em ultima analise, achei (e acho) que
e um meio que nao tem futuro, embora haja por ai visionarios de meia
tijela que acham que e a melhor coisa desde o pao cortado as fatias.
Na realidade o Twitter e a versao 2.0 do IRC e , como o IRC, esta
condenado a morrer, substituido por outra qualquer novidade. Essa
fatalidade deve-se nao so ao meio em si mas, acima de tudo, devido
a chegada da maralha que o usa como chat e como feira de vaidades
e palco de insultos. Este filme ja se viu antes noutros meios: assim
de repente ocorrem-me os chats das BBS ha 20 anos atras, a Usenet
ha 10 anos atras ou o Slashdot ha 5 ou 6. A nivel mais local o mesmo
filme foi visto no Gildot ou nos “planetas” whatever.
O futuro o dira. Mas preconizo que dentro de 1 ou 2 anos o Twitter
sera impossivel de utilizar, consequencia de um ruido interminavel
e de uma multidao de utilizadores. Atras disso vira tambem o spam.
Na maralha que agora chega ao Twitter incluo os cognoscenti, literatti,
digerati e outras inteligencias superiores (escritores, actores,
politicos, jornalistas, etc).
Como outros meios, o Twitter tem ou teve valor enquanto estava
restringido a uma comunidade que entendia como devia ser usado e
que criava por sua via algum valor acrescentado. A medida que vao
entrando os ignoramus a quantidade de informacao util diminui. E,
a certa altura, acaba por se chegar a conclusao (como eu cheguei)
que mais vale a pena abandonar o barco. Acho que so se deve fazer
parte de uma comunidade enquanto se produz e se recebe valor; e/ou
enquanto a comunidade e o meio podem servir como veiculo de troca
de ideias e opinioes consequentes. Quando se contribui mais do que
o que se recebe (especialmente se se recebem piadas, insultos ou
ataques ad hominem) ou entao quando o meio e usado para ruido
inconsequente (insultos, conversas de cafe, vaidosismos, gracolas,
oportunismos, etc) o melhor e desligar. A certa altura passa a ser
conversa de putas de esquina. Depois de 1 mes de ter deixado de
participar activamente e de apenas observar (ha outras formas de
seguir o que se passa no Twitter sem ser com follower e com
following), nao posso dizer que esteja arrependido: a maior parte
do tempo e conversa de putas de esquina.

A outra razao para ter “suspendido” o blogging prende-se com
o facto de ter decidido que, apos ter saido do ITIJ/MJ, iria
manter um profile com menos notoriedade, pelo menos durante 1 ano.
Por um lado nao e do meu estilo aproveitar-me de uma oportunidade
que me foi dada e utiliza-la para botar faladura e armar em opinion
maker. Por outro lado nao quis dar azo a comentarios e potenciais
embaracos, tao faceis de criar hoje em dia (particularmente pela
comunicacao social que deturpa o contexto e o significado como
forma de criar noticias).
Para alem disso queria usar os meus 40 anos para reflectir
sobre a minha vida, o que tenho feito e o que queria fazer a
seguir.

Paradoxalmente (ou pelo contrario), umas das razoes que me
levaram a re(iniciar) o blog ha 2 anos (2007) teve a ver com o
facto de precisar de algum escape para aquele que eu sabia ser
o meu ultimo ano no ITIJ, ao fim de quase 3 anos de comissao
de servico. De facto, quando aceitei e assinei essa mesma
comissao de servico (e a consequente responsabilidade), tinha
para mim a partida que nao iria prolonga-la para alem dos ditos
3 anos (2005-2008).
Precisamente por saber que em Abril de 2008 faria 40 anos
e nao queria passa-los integrado na Administracao Publica.
Havia algo de imobilismo, de conformismo e de definitivo que
eu nao queria que acontecesse. Houve, claro, outras razoes para
ter saido do ITIJ/MJ (maioritariamente pessoais) mas isso fica
para outro post.

Portanto: (re)iniciei o blog como forma de escape as
pressoes do cargo no MJ e para documentar essa fase da minha
vida (39/40); deixei o MJ em parte devido aos meus 40 anos e
suspendi o blog para me distanciar do MJ; nao bloguei tanto por
causa do Twitter e para reflectir sobre a vida, o Universo e
tudo o resto. Esta explicada a interligacao. E uma boa altura
para retomar o blogging, se bem que nao sei bem se vai haver
alguem a ler isto: os fornecedores do ITIJ ja nao estao
interessados; a antiga homepage esta em branco e nao vai
mudar… Talvez via RSS; boa sorte.

“Crise da meia idade?”, perguntarao alguns. Visto do
meu lado nao. Nao pelo menos no sentido que e costumeiro
dar-lhe. Nao me deram subitamente ganas de comprar um
Ferrari (uma Harley sim…), vontade de ser pasteleiro
ou atracoes por miudas de 20 anos. Muito pelo contrario.

Os meus 40 anos serviram mais para eu consolidar e confirmar
aquilo que realmente sou: um teenager crescidote, ainda
fascinado pela tecnologia e pelas possibilidades que ela
representa; que continua a pensar em novos negocios e em
abanar o barco; que continua a gostar de tocar guitarra e
ouvir heavy metal; que ainda acha piada a video games e que
ainda consegue dar baile a alguns putos; que esta muito bem
casado, mesmo depois de 15 anos de casamento.

Passar a ter 40 anos foi para mim aquilo que para muitos
acontece aos 18: passei a ser grande. A ser XL. A ser adulto.
Andei 20 anos, dos 20 aos 40, plenamento convicto de que
era um puto. E agora estou plenamente convencido que os
proximos 20 anos e que vao ser o melhor periodo da minha
vida. Onde a minha experiencia como tecnologista e como
empreendedor vao poder servir para criar e ajudar a criar
coisas com outra dimensao. Quem esteve no TakeOff 2008
sabe do que e que estou a falar: a melhor ideia e aquela
que nos mete mais medo e que toda a gente diz para nao a
fazermos…

— MV

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