11
Sep 11

System8 – A Saga Começa

(NOTA: este artigo foi publicado aqui na Exame Informática, na minha coluna de opinião Franco Atirador)

Já tinha referido num artigo anterior que tinha de começar a pensar em substituir a workstation Dell com 10 anos. Comecei a fazê-lo.

A última vez que montei um computador (para trabalho de escritório), vai para 3 anos, saiu aquilo que eu apelidei de System4: 4 CPUs, 4Gb de RAM, 400Gb de disco, 4 portas USB e uma placa gráfica com qualquer coisa relacionada com 4. Claro, o preço foi pouco mais de 400€ (sem IVA).

O meu objectivo para a nova workstation é construir o System8: 8 CPUs, 8Gb de RAM, 80Gb de disco SSD, 800Gb de disco SAS, 8 portas USB 3.0 e uma placa gráfica (ou duas) com qualquer coisa relacionada com 8. Com 8Gb de RAM. Ou com 8 GPUs. Provavelmente esta última, consegue-se fazer juntando quatro placas dual-core, ligadas em SLI.

Estou a tomar como ponto de partida o sistema descrito em http://blog.zorinaq.com/?e=42.

Os 8 CPUs assim como os 8Gb de RAM são importantes para poder correr múltiplas virtual machines, com múltiplos sistemas operativos. O Plan9 é fixe mas não me atrevo a pô-lo numa máquina em produção. Os 8Gb também dão jeito para meter o OS e binários respectivos num RAM disk e obter performances elevadas.

Os 80Gb de SSD são também críticos para a perfomance. O plano é usá-los para armazenar a totalidade do sistema operativo e para armazenar todas ou algumas aplicações mais “pesadas” (OpenOffice, jogos FPS, processamento de som (Audacity e Guitar Rig) e processamento de imagem (Gimp).

Os 800Gb de disco para o habitual: documentos vários, colecção de MP3, colecção de filmes e séries, storage de bases de dados, etc.

As 8 portas são importantes para ligar equipamentos externos, obviamente. E as 4 portas do System4 já se têm revelado insuficientes.

Quatro placas ligadas em SLI são importantes para eventualmente ter um setup com 4 monitores. Também dão jeito para os jogos (Quake3, OpenArena). E os GPUs permitem crackar 33.1 biliões de passwords MD5 por segundo. Um interesse puramente académico, claro.

Esqueci-me de um pequeno pormenor: o System8 tem de custar 800€ ou pouco mais (sem IVA)

Até agora o total dos componentes dá a bonita soma de 2151€, comprados na Amazon UK ( http://goo.gl/FXmfy ). O desafio está portanto em encontrar componentes equivalentes e diminuir o total.

Aceitam-se sugestões.


11
Aug 11

Google Plus… Ça Change.

(NOTA: este artigo foi publicado aqui na Exame Informática, na minha coluna de opinião Franco Atirador)

O assunto das últimas semanas tem sido o Google Plus, a primeira rede social do Google. A primeira não, desculpem: antes a Google já tinha lançado, sem sucesso, o Google Wave. Não, a segunda não, a terceira: antes a Google já tinha lançado o Google Buzz. Não, a terceira não, a quarta: antes a Google já tinha lançado o Orkut.

 

Estranho? Não. Depois de 20 anos de uso de Internet e 25 anos de uso de telecomunicações informáticas uma pessoa vai-se habituando a ver as histórias repetidas.

 

O Twitter fez há uns meses 5 anos. É verdade, não apareceu o ano passado, existe desde 2006. Registei-me um ano depois em 2007 e não liguei muito. Passei depois a usar intensivamente a partir do fim de 2007. Mas o facto é que, podendo parecer uma novidade para muitos, o Twitter não é mais do que uma versão do IRC do fim do anos 90 (que muitos chamavam de mIRC erradamente). Sendo certo que, na verdade, a inspiração para o Twitter começou como uma extensão do conceito de status que era usado no ICQ, no MSN e outros.

 

O Facebook começou em 2004 mas antes já existiam o Hi5 e o MySpace. Antes do Hi5 e do MySpace já existia o Friendster. Os blogs já vão ficando fora de moda, mas mais não eram do que uma evolução dos grupos de news Usenet. E estes últimos tinham muito das listas Listserv da Bitnet e dos tópicos da Fidonet (ah! A Fidonet… uma rede social em que um gajo para se ligar outro tinha mesmo de ligar com o modem de um lado ao outro… só para homens de barba rija…). E a inspiração mais directa do Google Plus foi uma rede social chamada Friendfeed que acabou por ter sido comprada pelo Facebook (nunca percebi muito bem para quê). De facto o interface do Google Plus é uma cópia chapada do Friendfeed.

 

A experiência de anos no uso destas várias comunidades online também me permite ver outra história repetida.

 

No início de cada uma destas comunidades há um grupo reduzido de utilizadores, nomeadamente os early adopters. Esse grupo reduzido permite que a comunidade em causa seja bastante coerente, produzindo informação e a sua partilha com alto valor acrescentado. Depois, lentamente, vão aparecendo mais utilizadores, com um aumento correspondente mas cada vez mais marginal de produção de valor. A partir de certo ponto, nomeadamente quando a comunidade online ou um subgrupo (círculo de amigos) atinge o número de Dunbar (150), a coisa entra em ruptura começando rapidamente a perder valor (lembram-se dos colecionadores de cromos?). O facto de passar a haver pessoas que não se conhecem leva, rapidamente a discussões infindáveis e à agressão pessoal. Passa a haver utilizadores que se valem da comunidade para fins diversos da mesma (comerciais, por exemplo, ie. Spam). E todas as conversas, de acordo com a lei de Godwin, acabam por terminar com guerra sobre política, Salazar ou Hitler.

 

Os newsgroups eram giros até surgir o spam. O IRC era giro até aparecerem os Zézés Camarinhas do online. Os blogs eram giros até aparecerem os anónimos. O Facebook era giro até aparecer o Farmville. O Twitter era giro até aparecerem os colecionadores de cromos.

 

O Google Plus está neste momento no início, sendo certo que foi a rede social que mais rápido cresceu (20 milhões de utilizadores em pouco mais de 2 semanas). Ainda tem o feeling de uma comunidade pequena, de interesse, de criação de valor. Embora o G+ tenha mecanismos novos e diferentes para gerir o crescimento da comunidade, é inevitável que acabe por se transformar num espaço inviável que deixa de ter interesse para o grupo inicial de utilizadores. E venha o próximo espaço online onde se possa interagir de forma válida sem ter que apanhar com os chatos.

 

É caso para dizer que com o Google Plus: plus ça change…

 


23
Jul 11

Esoterica VII – Golias e o Ataque Atómico

… ou “como eu estive próximo de apanhar 3 anos de prisão por causa de incomodar a PT”. E não, não teve a ver com piratarias que eu não percebo nada disso.

Vou-vos então contar a história da bomba atómica.

As relações da Esoterica com o ICP (hoje Anacom), era de “profunda amizade”. Regularmente tinhamos uma visita deles, não necessariamente física. Uma vez foi por causa dos modems sem licença que estávamos a usar e que afinal estavam na lista de equipamento licenciado; outra vez foi para saber que raio de linha dedicada é que tínhamos, porque não estava registada na PT (pois não, dessa vez não fomos parvos, e em vez de pedir à PT uma linha dedicada de Lisboa a Londres encomendámo-la à British Telecom); outra vez foi para dizer que tínhamos de bloquear os ports onde passava Voice-Over-IP ( Vocaltec anyone?) porque não tínhamos licença para operar voz, era um monopólio da PT.

Endless fun.

O dia da bomba atómica chega quando aparece uma cartinha citação vinda do Palácio da Justiça. Ora então a Esoterica, nomeadamente o seu responsável (eu), era arguida(o) num processo crime pelo facto de ter estado a funcionar como operador de telecomunicações sem ter licença, crime esse pelo qual podia incorrer numa pena de prisão até 3 anos. Como disse atrás, endless fun…

Lá fomos. Não tínhamos guito para pagar a advogados, mas felizmente por essa altura já tínhamos tido um investimento por parte da Lusoholding e um dos administradores da Esoterica era advogado. (um dia destes também conto a história desse investimento e do filme com o Vasco Pereira Coutinho)

Pergunta daqui, pergunta dali, resposta à Sra Dra Juíza, falamos nós, fala alguém do ICP/Anacom (que já tinha trabalhado na PT) e tal e tal. Acabámos por demonstrar que tínhamos feito todos os esforços para saber que tipo de licença devíamos pedir e como a poderíamos obter. E fizémos de facto todos os esforços. Vim a saber mais tarde que andámos a ser empaliados deliberadamente para dar tempo que a PT/Telepac lançásse o seu serviço.

A coisa estava a ficar mais ou menos encaminhada mas ficou completamente resolvida num repente. Está o artista do ICP a responder e pergunta a Juíza : “então mas se estes senhores andaram quase 2 anos a operar sem licença, porque é que os senhores, que até tinham conhecimento das diligências deles, só agora interviram?”. E diz o tipo (mais ou menos por estas palavras): “ah, é que enquanto eles estavam mais ou menos caladinhos não se justificava. Mas oh sôtora, quando duas das pessoas que mais sabem de Internet no País começam a fazer publicidade e a dar conferências, já não pudémos fechar os olhos!”. Já foste…

A Juíza deu uma rabecada no ICP por causa de nos ter empaliado, criticou o facto de o ICP só ter intervido quando a Esoterica começou a parecer uma “ameça”, e mandou-nos para casa com a multa mínima para o crime (500 contos, 2500€).

Para que conste, portanto, eu já fui arguido. Excelente arma para me descredibilizar agora que o cabelo comprido já não serve. E arma eficaz quando me candidatar a primeiro ministro (isto para além do facto de usar o título de Eng. e não pagar as quotas da Ordem).

E não foi arguido numa merda qualquer no cível, não. Criminoso mesmo. Dá um certo estilo.

 


16
Jun 11

Colecionadores de Cromos

(NOTA: este artigo foi publicado aqui na Exame Informática, na minha coluna de opinião Franco Atirador)

Nos meus tempos de miúdo não havia cá MTVs, nem Internet, nem 100 canais de televisão, nada. Era fazer carrinhos de rolamentos, jogar à bola, aos polícias e ladrões, roubar fruta nas quintas das redondezas… E colecionar cromos.

Embora não fosse grande maluco da coisa, também colecionei cromos. Mas havia pessoal que era mesmo obcecado com os cromos. Em particular os de futebol. Compravam as carteirinhas que podiam e que não podiam, fazia trocas altamente especializadas… Eram especialmente malucos coms os chamados “cromos difíceis”.

As redes sociais são actualmente o campo de acção dos colecionadores de cromos. Tẽm um amigo em comum com um gajo qualquer, toca de chatear o dito gajo para amizade, follow, like, etc. Encontram um tipo qualquer que viram na televisão toca de mandar um pedido de amizade no Facebook, baseado num like e num comentário tipo “altamente”. Trocaram um cartão de visita num congresso qualquer, sai um pedido de amizade no LinkedIn. É um fartar de colecionar cromos.

Recebo pedidos de “amizade” todos os dias. Amizade? Oh amigo eu nunca te vi mais gordo! Ah, falámos de raspão num congresso? Não sou teu “amigo”, nem sequer te conheço. Recuso e ignoro diariamente meia dúza de “amigos”. Só me “ligo” a pessoas que realmente conheço, com quem passei mais de uma ou duas horas. E há pessoal que se zanga. Que amua. Que se sente rejeitado. É como os colecionadores de cromos, quando era eu é que tinha o cromo difícil e não o queria trocar.

O que as pessoas parecem não perceber, tanto os que colecionam cromos nas redes sociais como os que aceitam serem cromos colecionáveis, é que quanto mais se ligam menos valor tem a rede social em causa. De facto julgam até o contrário: quanto mais ligações tiver, melhor, mais valor. Errado. Se o valor fosse maior com o número de ligações, a coisa era simples: o Facebook (ou outra rede social qualquer) ligava toda a gente a toda a gente. Valor dessa rede social? Zero.

Eu, António (faz de conta), sou amigo do Bruno e temos uma ligação de “amizade”. E o Bruno é amigo do Carlos com quem tem uma ligação. Esta rede tem valor porque a minha ligação ao Bruno permite-me chegar ao contacto com o Carlos. Mas se eu, António, estiver ligado ao Carlos directamente, sem que haja uma relação real, esta pequena rede passou a ter um valor de zero. A minha ligação ao Carlos é fictícia e a ligação do Bruno ao Carlos perdeu valor porque para chegar ao Carlos o António, supostamente, não precisa do Bruno.

Alguém se lembra da rede social que ia mudar Portugal? O Startracker? Pois é. Vale zero. Toda a gente se ligou a toda a gente. Toda a gente era “amiga” do Presidente da República. Valor final: zero. Resultado final: os utilizadores abandonaram o barco. Especialmente os colecionadores de cromos.

Quando vejo perfis no Facebook, no Twitter, no LinkedIn e outros, com coisas tipo 543 amigos, 1254 followers, 871 ligações profissionais, a minha reacção é logo: tanga. E é logo um factor de perda de credibilidade. Para mim é alguém que não reserva nem preserva as suas ligações pessoais reais, alguém que quer mostrar algo que não tem, que se quer credibilizar por uma rede de conhecimentos que, na realidade, é completamente fictícia. É o que dá colecionar cromos.

 


27
May 11

MJ II – Concursos Públicos para Profissionais

A última polémica destas eleições, a questão dos concursos públicos à medida, fez-me lembrar mais uma historieta da minha passagem pelo Ministério da Justiça…

A certa altura um dos organismos do Ministério lançou um concurso para compra de um conjunto de equipamento configurado de determinada forma. Não era nada do outro mundo, eram p’raí 10 ou 12 mil euros. Mas era o suficiente para ter de se fazer consulta pública a pelo menos 3 fornecedores.

Chega o dia de ver as propostas e deparo-me com 3 propostas quase iguais. Tipo: uma tinha um parafuso a mais e custava mais 10€, a outra tinha uns cabos piores e custava menos, etc. Para além disso fez-me alguma espécie ver 3 propostas, apresentadas por 3 distribuidores/fornecedores diferentes, com praticamente o mesmo e exacto equipamento e configuração. Do mesmo fabricante.

Fiz meia dúzia de perguntas e fiquei esclarecido…

Então parece que é frequente acontecer isto: um fabricante quer ganhar um concurso; mas não quer apresentar só uma proposta e concorrer com outros fabricantes; pega em 3 dos seus distribuidores e são eles que concorrem, com uma proposta definida pelo fabricante com pequenas alterações para cada distribuidor e pequenas alterações de preço; umas vezes ganha um dos distribuidores, outras vezes ganha outro. WIN.

Como o ITIJ tinha de aprovar todas as despesas em tecnologias e sistemas de informação, o Conselho Directivo ao qual presidia não aprovou a despesa e anulou o concurso. Ainda se deu uma descasca nos responsáveis do organismo em causa. E uma stickada nos distribuidores e fabricante: voltavam a repetir a gracinha e ia tudo recambiado para as autoridades competentes.

(Eu sou assim, um gajo afável e tolerante, dou sempre uma 2a oportunidade às pessoas. Mesmo assim, à conta desta e doutras, não consigo mesmo arranjar amigos. E ainda dizem que tenho mau feitio. É uma injustiça.)

Quanto aos concursos feitos à medida que agora estão na berlinda, só tenho a dizer uma coisa: meninos. Não sabem fazer as coisas. Os verdadeiros profissionais dos concursos são muito mais sofisticados…